Filme do dia (11/2023) - "Nada de Novo no Front", de Edward Berger, 2022 - Alemanha, 2017. Um grupo de jovens alista-se para combater na Primeira Guerra, dentre eles Paul (Felix Kammerer), instigado pelos amigos. Inicialmente entusiasmados, idealizando o combate, os jovens logo perceberam que a realidade do front não é nada daquilo que imaginavam.
Livremente adaptada do livro homônimo de Erich M. Remarque, essa refilmagem do clássico de 1930 chega para, mais uma vez, colocar por terra a imagem idealizada e romântica da guerra, tão propalada em um sem fim de livros e filmes. Aqui o combate é mostrado de uma maneira bem mais realista e o sofrimento de passar por tal experiência traumática torna-se o cerne da obra, evidentemente pensada como um manifesto antibelicista. O filme é muito bom, mas é difícil falar dele sem compará-lo com seu antecessor, motivo pelo qual vou me render e comentá-lo traçando um paralelo entre ele e o filme de 1930. Quando assisti ao original, uma coisa que até comentei que não me fez sentir tanto impacto foi o fato de ainda estarmos na época dos filmes P&B - o fato da fotografia não ser tão realista fez com que eu me sentisse um pouco mais distante daquela realidade. O grosso da guerra estava lá: a dor, a fome, as mortes, o descaso, mas eu me sentia como uma espectadora em um local bastante seguro. Na obra de 2022, essa "distância" criada pela fotografia P&B desaparece e o fundo das trincheiras parece-nos infinitamente mais real e próximo, como se estivéssemos ali com os personagens. Além disso, em 1930 havia bem menos possibilidades técnicas que em 2022 para criar efeitos especiais que representassem mortes, explosões, etc, de forma que, é claro, o filme atual acaba por ser bem mais dinâmico e impactante visualmente. As interpretações do filme recente também são mais naturalistas, pois em 1930 ainda havia algo de teatral nas atuações. Por outro lado, eu achei o original infinitamente mais poético (inclusive no desfecho) do que a refilmagem, o que, certamente, pesou um tanto na leitura final do filme. Colocando na balança, acho que gostei mais do original, talvez até mesmo porque estávamos muito mais próximos, temporalmente, dos fatos e acredito que isso possa ter influenciado numa visão mais pessoal da guerra do diretor (com certeza alguém que viveu uma guerra tem muito mais condições de representá-la do que alguém que só leu sobre o assunto). Mas, "pelamor", isso nem de longe tira os méritos do filme atual, que serve bem ao propósito de "tirar o véu" de cima da real imagem da guerra. Destaque total para a fotografia em tons azuis-acinzentados, "esfriando" o ambiente e legando aos personagens uma tonalidade de pele meio esverdeada, arrancando qualquer imagem de saúde e humanidade deles. Destaque também para a trilha sonora pesada e incômoda, apoiada em sons de cordas (um violoncelo, talvez? Não estou bem certa) que me angustiava sempre que aparecia. No elenco, o destaque fica por conta de Felix Kammerer e seus muito expressivos olhos azuis como Paul e Albrecht Schuch como Kat, ambos muito bem. Por se tratar de um filme sobre os horrores da guerra, impossível não mencionar o diálogo que ele traça com outras duas obras maravilhosas sobre o mesmo tema: os filmes "O Medo" (2015) e "Vá e Veja" (1985). O primeiro é um filme francês que discorre também sobre a Primeira Guerra, retratando o mesmo fundo de trincheira deste aqui. É um filme que não tem qualquer pudor em mostrar os horrores físicos do combate, tornando-se quase um "slasher" de tanto sangue e vísceras expostas; o segundo é uma obra russa sobre a Segunda Guerra e, na minha opinião, é a história mais horrenda de guerra já feita pelo cinema e o melhor filme sobre o tema que eu conheço. A sintonia destas obras é a mesma e todos são incrivelmente pró-paz. "Nada de Novo no Front", cujo original foi agraciado com os Oscares (1930) de Melhor Filme e Melhor Direção, está concorrendo, em 2023, a incríveis nove Oscares, dentre os quais Melhor Filme, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro Adaptado. Eu gostei bastante e está fácil de ver na Netflix, ainda que tenha sentido falta da tela grande.
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