“Ninho do Mal”, de Hanna Bergholm, 2022
- hikafigueiredo
- 2 de ago.
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Filme do dia (51/2025) – “Ninho do Mal”, de Hanna Bergholm, 2022 – Tinja (Siiri Solalinna) é uma jovem aspirante a ginasta que vive tentando agradar sua mãe exigente e com sonhos de perfeição. Um dia, Tinja encontra um ovo abandonado e começa a cuidar dele, sem imaginar que dele nascerá uma criatura que transformará sua vida e daqueles que a circundam.

Gente... o que acontece com aquele povo dos países nórdicos? Como que eles, vivendo em condições tão favoráveis, conseguem criar filmes de terror tão perturbadores? Desde o sueco “Deixa Ela Entrar” (2008), passando pelo norueguês “Thelma” (2017) e culminando no excepcional dinamarquês “Speak No Evil” (2022) – o original, não a refilmagem estadunidense -, os filmes de terror nórdicos são, sempre, extremamente densos e por demais angustiantes e cheio de camadas. A bola da vez é o finlandês “Ninho do Mal”, cujos desenvolvimento e, principalmente, o desfecho acabaram comigo. A história apresenta Tinja, uma menina pré-adolescente que treina para ser ginasta. Rápido percebemos tratar-se mais de uma aspiração materna do que algo natural da garota, que passa o tempo todo tentando agradar a mãe, uma vlogueira estilo “tradwife” que apregoa um estilo de vida equilibrado e feliz, expondo sua família supostamente perfeita em seus vídeos. Ocorre que, na realidade, essa mãe é completamente narcisista, tóxica e egoísta, subjuga o marido submisso, ignora o filho caçula e pressiona a filha para que ela corresponda aos seus ideais de perfeição e vitória, depositando nela suas frustrações de seu fracasso como patinadora no gelo após algum evento que lhe legou uma terrível cicatriz na perna. Certo dia, a mãe mata, cruelmente, um pássaro que ousou entrar na sua casa e, no desespero de sair, quebrou objetos, estragando sua sala perfeita. Tinja, a qual se mostra empática, bondosa e cheia de compaixão, fica abalada, mas não tem forças para se rebelar contra a mãe (nem precisa dizer que aí eu já detestava a desgraçada da mulher, né?). Nessa noite, a menina encontra um ovo e passa a cuidar dele e, após alguns dias, dele nasce uma criatura monstruosa, mas que lhe demonstra afeto e dispensa cuidados. O que vemos a seguir é a materialização de todas as dores, frustrações, medos e raiva de Tinja, enquanto a criatura vai, gradativamente, mudando sua aparência. Queria falar mais um monte, mas cairia em spoilers imperdoáveis. A obra é profundamente interpretativa – como sempre, nesses filmes de terror nórdicos –, muito sensorial e, tenho de dizer, mexeu muito com as minhas noções de justiça e do que é certo ou errado. Posso dizer, sem incorrer em spoiler, mas, talvez, causando alguma influência na leitura de um possível futuro espectador (me desculpe!), que o filme trata muito da maternidade tóxica – não da forma real como mostrada em “A Filha Perdida” (2021), mas de uma maneira alegórica, mas não menos traumática. Também traz uma crítica severa e bem impactante às ilusórias postagens de internet – em canais, blogs, vlogs e similares – que “vendem” as imagens e histórias, no mais das vezes falsas e hipócritas, de vidas perfeitas e sem quaisquer problemas, deixando bem claro que, por baixo de tanta perfeição, existe um tanto, ainda maior, de podridão. Eu destaco o desenho de produção que traz a vida idílica em tons pastéis e papeis de parede florais contrapondo-se ao “body horror” da criatura e tudo mais que vem ao seu reboque. Temos bons efeitos especiais que vão do CGI aos animatrônicos, passando por ótimos efeitos de maquiagem. Gostei da concepção de som – sempre sabemos quando a criatura está próxima por conta de alguns sons, como o arranhar de suas garras ou seus guinchos. E temos, ainda, o trabalho muito competente da pequena estreante Siiri Solalinna como Tinja – ela consegue trazer muito complexidade à sua personagem e seu último olhar é profundamente significativo (sem spoiler!!!). E não vamos esquecer da interpretação igualmente incrível de Sophia Heikkilä como a mãe – que personagem intragável e necessária!!!! Carinho, ainda, pelo personagem Tero, interpretado por Reino Nordin. Eu AMEI o filme e fiquei elucubrando sobre ele por horas a fio, achando significados, detalhes e tratando de fechar o rombo no peito (sim, eu gosto de filmes que me deixam mal, me deixa!). Segundo O Justwatch, está disponível em streaming no Prime Video e no Mubi.
PS – Não são nórdicos, mas gostaria de deixar uma menção aos incríveis terrores alemães “Hagazussa – A Maldição da Bruxa” (2017) e “O Banho do Diabo” (2024) – esse último um drama com o pé no terror. Por quê? Só porque são excepcionais mesmo e valem demais a visita!!!!



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