“Noite Passada em Soho”, de Edgar Wright, 2021
- hikafigueiredo
- há 17 minutos
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Filme do doa (134/2025) – “Noite Passada em Soho”, de Edgar Wright, 2021 – Eloise (Thomasin McKenzie), uma jovem aspirante a estilista, sai de sua pequena cidade natal e vai para Londres, estudar moda. Possuidora de um estranho sexto sentido, Eloise começa a ter visões noturnas com uma remota Londres dos anos 60, oportunidade em que passa a acompanhar o cotidiano de Sandie (Anya Taylor-Joy), a qual sonha com o estrelato. O que inicialmente era encantador, no entanto, vai ganhar cores sombrias quando Sandie inicia uma descida ao inferno, e Eloise passa a ser atormentada por vultos assustadores.

Nesse thriller de terror, muito bem construído pelo diretor Edgar Wright, acompanhamos a protagonista Eloise, uma jovem recém-chegada a Londres, que, todas as noites, têm visões com uma longínqua e glamourosa cidade dos anos 60. Eloise, a qual romantizava a época, passa a “se ver” no corpo de uma aspirante a cantora, Sandie, compartilhando não apenas os momentos da vida da artista, mas também seus sentimentos mais íntimos. No entanto, a vida de Sandie começa, lentamente, a desmoronar e Eloise é sugada para o caos – as visões noturnas passam a se estender para todas as horas do dia e Eloise passa a não diferenciar o real de seus devaneios. Em desespero, Eloise, apegada a Sandie, tenta salvá-la de um destino aparentemente sombrio e colocará todas as suas forças para resgatá-la. Com uma narrativa inicialmente bastante sólida, a obra constrói uma atmosfera onírica, na qual a insegura e tímida Eloise passa a compartilhar momentos com Sandie, uma jovem determinada e impulsiva. Percebemos como a altíssima autoestima de Sandie, aliada à época dos sonhos de Eloise, passam a influenciar a estudante que, muito mais segura de si, começa a se impor mais e acreditar em seu potencial. Quando tudo começa a dar errado para Sandie, Eloise tenta tomar as rédeas para ajudá-la, mas ela é mera observadora e não tem ingerência nos acontecimentos passados. O grande mérito da obra é conseguir transformar, gradualmente, o encanto em pesadelo. Outra virtude do filme é o desenho de produção de época, sensacional – a década de 1960 é mostrada com todo o fascínio que Eloise sempre imaginou, mas, pouco a pouco, passamos a ver um lado bem menos glamouroso daquele momento de Londres. Eu gostei bastante de como o diretor faz essa passagem do encanto para o terror. Mas, como nem tudo são flores, nos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, a narrativa ganha um plot twist que, para mim, não fez o menor sentido! Há, ali, toda uma desconstrução que me pareceu deslocada, se considerarmos a experiência de Eloise até então. Por muito pouco, o filme não se perde por completo – e muito provavelmente essa é a opinião de muitos espectadores, mas, como eu sou boazinha, não acho que o desfecho estrague a narrativa construída até o momento da virada, pelo que eu dou um desconto. Destaques para a trilha musical anos 60, simplesmente maravilhosa (queria ter todas as músicas no meu Spotify); para o figurino charmosíssimo de Sandie e que inspira Eloise em suas criações; e para a fotografia noturna da cidade de Londres. Destaque, também, para a referência ao maravilhoso filme “Repulsa ao Sexo” (1965), em uma cena marcante e angustiante. Quanto ao trabalho do elenco, Thomasin McKenzie interpreta sua Eloise com delicadeza – a retração da personagem, sua insegurança e medos, tudo está bem demarcado pela atriz; Anya Taylor-Joy dispensa comentários – a atriz é sempre incrível, principalmente em personagens estranhos, contraditórios ou perturbadores e sua Sandie, tão ousada e decidida, também passa uma energia caótica, mostrando o ótimo trabalho da intérprete; Matt Smith interpreta Jack, cumprindo bem o papel. No elenco, ainda, Terence Stamp, Diana Rigg, Rita Tunshingham e Michael Ajao. O filme foi indicado ao prêmio de Melhor Filmes Britânico no BAFTA (2022). Olha... eu havia visto críticas bem contrárias de diferentes espectadores – gente que amou, gente que odiou. Eu confesso que gostei bastante, apesar de não achar o plot twist a melhor das opções. Acho que vale a visita, mas sem criar expectativas excessivas. Segundo o Justwatch, está disponível no Prime Video no streaming normal e no Apple TV para alugar.



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