“Nosso Amor”, de Lisa Barros D’Sa e Glenn Leyburn, 2019
- hikafigueiredo
- há 1 dia
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Filme do dia (133/2025) – “Nosso Amor”, de Lisa Barros D’Sa e Glenn Leyburn, 2019 – O casal Joan (Lesley Manville) e Tom (Liam Neeson) é surpreendido pela notícia de que Joan tem câncer no seio. Juntos, eles terão de enfrentar a doença e reinventar sua relação.

O nome meloso sugere um romance, mas, temos, aqui, um drama que se equilibra, com sucesso, para não enveredar por um melodrama lacrimoso. Na história, acompanhamos um casal de meia idade que é surpreendido pela doença da esposa e que precisa se manter firme para superar o mal e o longo tratamento pela sua cura. Assisti ao filme esperando um determinado encaminhamento e recebi, com espanto, algo bem diferente. Certamente influenciada pela nossa realidade cultural – no Brasil, são raros os casos de acompanhantes do gênero masculino de pacientes hospitalizados e, segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia (sim, eu me dei ao trabalho de pesquisar), cerca de 70% das mulheres diagnosticadas com câncer de mama são sumariamente abandonadas por seus companheiros, porcentagem que se estende por todas as demais doenças graves -, esperei que o personagem Tom abandonasse o barco logo nas primeiras cenas após a descoberta da doença e fiquei surpresa ao perceber que ele, a despeito de todas as dificuldades, estava disposto a acompanhá-la até o fim. Fiquei com uma estranha sensação de que aquela situação retratada na obra era uma excepcionalidade e, curiosa, voltei à pesquisa e me deparei com outro número alarmante: mulheres têm seis vezes mais chances de serem abandonadas por seus companheiros em decorrência de doenças graves do que homens, segundo um estudo publicado em 2009 em uma renomada revista estadunidense. Confesso que essas informações me deixaram um tanto deprimida e convencida de que a espécie humana deu muito errado. Enfim, voltando ao filme, a narrativa foca na maneira como o casal lida com a doença e como reinventa sua relação para que ela não seja abalada pelos acontecimentos. Algo que eu gostei na obra é que o relacionamento não é romantizado e todo cor-de-rosa – o casal, por vezes, se cutuca e até é ríspido um com o outro, mas a relação é verdadeiramente sólida e há disposição de permanecerem juntos a qualquer custo. Também gostei do fato de não existirem arroubos excessivos de emoção, o que se esperaria de um casal latino, mas não de personagens britânicos – até existem momentos em que o tom sobe, mas nada se comparado ao que aconteceria em algumas outras culturas. Algo que eu mudaria, seria a presença de trilha sonora incidental – eu SEMPRE prefiro a ausência ou o uso muito restrito de música incidental em dramas, talvez pelo ranço do modo como o cinema hollywoodiano faz uso da trilha sonora para manipular o público. Aqui, muito embora a música incidental não seja usada para manipular o espectador, ela acaba por suavizar uma situação que, na minha opinião, seria mais impactante se fosse mais seca, direta. Até pela temática apresentada, o cerne do filme se encontra no trabalho de interpretação do casal protagonista – fora eles, só temos dois outros personagens significativos. Liam Neeson convence bem como o marido presente, ainda que reclamão, mas é Lesley Manville quem se sobressai como a esposa lidando com sua própria doença. A personagem Joan é bastante real, sem romantizações: ela é chata e impaciente no dia a dia, mas, ao descobrir a doença, torna-se mais frágil, ainda que tente esconder e negar essa fragilidade. Quando os efeitos da quimioterapia se tornam mais difíceis, ela fica mais irascível e tem reações bastante compreensíveis na sua situação – e a atriz consegue transmitir essas nuances da sua personagem com bastante competência. O filme é bem desenvolvido, consegue contar bem sua história, sem excessos, mas, sei lá, senti falta de algo – acho que, como disse antes, precisava de mais crueza. Em todo caso, não virar um melodrama insuportável já faz dele um exemplo a ser seguido. Por outro lado, sei que vou esquecê-lo rápido. Vejam por sua conta e risco. Segundo o Justwatch, encontra-se para comprar no Apple TV e não está em nenhum streaming só pela assinatura.



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