“Nosso Herói, Balthazar”, de Oscar Boyson, 2025
- hikafigueiredo
- há 17 horas
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Filme do dia (103/2025) – “Nosso Herói, Balthazar”, de Oscar Boyson, 2025 – Balthazar (Jaeden Martell) é um adolescente rico que passa os dias postando “reacts” chorosos nas redes sociais. Certo dia, após uma tragédia que vitimou dezenas de crianças em uma escola, Balthazar posta um de seus vídeos e é ridicularizado por um “troll”. Convencido de que por trás daquele “troll” existe um atirador em massa, Balthazar decide viajar para o Texas para convencê-lo a não fazer vítimas, no intuito de impressionar seu interesse amoroso, uma colega ativista pelo fim do porte de armas.

A obra – estreia na direção de Oscar Boyson – transita entre o drama e a comédia ácida ao retratar um adolescente rico e mimado que tenta impressionar sua colega bolsista, ativista pelo fim da disseminação de armas nos EUA, ao viajar para o Texas para convencer um suposto atirador em massa a não atacar uma escola. Ocorre que, ao chegar no Texas, descobre que, por trás do “troll” existe um pobre diabo inofensivo, cuja vida se encontra caótica por questões financeiras e emocionais. Solomon, o “troll”, é um jovem humilde, que mora precariamente em um trailer com sua avó inválida. Ele é órfão de mãe e foi abandonado pelo pai abusivo. Sem amigos, rejeitado pelas garotas, ele é o típico “incel”, motivo pelo qual perde seu emprego em uma loja de conveniência por deixar sua colega desconfortável. Em meio ao caos instalado na vida de Solomon, surge Balthazar, dizendo que quer ajudá-lo e ser seu amigo. O que temos então é um embate entre o “white people problem” e o “real life”, nas figuras de Balthazar e Solomon. O filme constrói dois personagens que são os extremos opostos – Balthazar é manipulador, egoísta, não possui qualquer empatia e não consegue entender minimamente a realidade que lhe é escancarada aos olhos; seu único interesse é impressionar os seus seguidores nas redes sociais e, mais especificamente, sua colega de classe por quem nutre interesses. Solomon, por sua vez, é apenas um jovem que luta para sobreviver em uma sociedade extremamente desigual, cujo único afeto legítimo é sua avó inválida; ele se reconhece com uma pessoa estranha, mas não intenciona fazer mal a ninguém e tudo que queria na vida era ser aceito pelo pai. Em comum entre os dois personagens, somente o abandono paterno e a solidão. A atmosfera geral da obra é de urgência – o espectador facilmente percebe que aquela interação não vai terminar bem, resta saber o que de horrível irá acontecer. Ao longo da narrativa, eu fui desenvolvendo um ódio pelo personagem Balthazar que nem sei explicar, na mesma medida que crescia a pena de Solomon. O filme é bem ritmado e sobe o tom até o clímax final. O desfecho é amargo em mais de um sentido, mas bastante realista. É um filme tecnicamente bem-feito, mas sem qualquer coisa de excepcional. O elenco traz Jaeden Martell como o insuportável Balthazar – pelo ódio que “garrei” no personagem, significa que o ator fez seu trabalho com perfeição; como Solomon, Asa Butterfield – eu sempre gostei do ator e aqui ele está bem diferente de outros personagens seus, inclusive por ter seus enormes e expressivos olhos azuis escondidos por trás de óculos; Chris Bauer interpreta o pai abusivo de Solomon – noooooossa, que ódio desse personagem!!! Jennifer Ehle interpreta a mãe de Balthazar, uma ricaça tão insuportável quanto o filho. O filme é interessante pois tanto discorre sobre a falsidade das redes sociais, quanto alerta para a violência armada nos EUA, além de mostrar o lado podre do país, que permite tamanha desigualdade social e abandono dos mais pobres. Eu gostei do filme e achei, inclusive, que ele complementa o filme visto anteriormente “Babystar” (2025). Deve entrar em cartaz nos cinemas, já que tinha legenda em português na própria tela. Décimo oitavo filme visto na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.



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