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hikafigueiredo

"Nunca Deixe de Lembrar", de Florian Henckel von Donnersmarck, 2018

Filme do dia (50/2020) - "Nunca Deixe de Lembrar", de Florian Henckel von Donnersmarck, 2018 - 1937, Alemanha. O pequeno Kurt Barnert já dá mostras de seu talento artístico. Incentivado por sua tia, por quem tem adoração, Kurt expressa-se através de desenhos livres de qualquer censura. O nazismo mudará a vida da família, mas não tirará de Kurt sua necessidade de expressão pela arte.





O título do filme em português me gerou uma certa expectativa que jamais teria ocorrido com o título original ("Werk ohne Autor", algo como "Trabalho sem Autor"). Por qualquer motivo, o título em português me fez esperar uma recuperação do passado quanto às tragédias pessoais vividas pelo personagem principal Kurt, o que, na realidade não ocorre como eu imaginei. Engraçado que isso não me criou nenhuma frustração, apenas certa surpresa. Para mim, o filme fala menos sobre o passado e a história da Alemanha e sobre os dramas pessoais de Kurt, do que sobre a experiência do artista e o caminho pelo que ele passa para expressar-se através da arte. Veja bem: há muito da história alemã na obra e ela interfere profundamente no desenvolvimento do artista Kurt, mas esse não é o cerne real da obra para mim. Na minha leitura da obra, o âmago do filme está na questão do "criar arte", de como um artista concebe e executa uma obra de arte - qualquer que seja - a partir de sua experiência de vida, visão de mundo, sensibilidade, etc. A despeito de todos os dramas vividos por Kurt, seu foco sempre esteve em sua necessidade de fazer-se entender através da arte, colocar-se através de suas obras - e nesse enfoque, o título original faz muito mais sentido que o título em português. O filme é muito interessante, pois possibilita uma série de leituras, inclusive diferentes daquela que, para mim, foi mais significativa. Há, por exemplo, diferentes estratos ideológicos sendo questionados; há, ainda, uma questão ética que permeia todo o filme; há a história da Alemanha como pano de fundo; e, para quem não quiser pensar em nada diferente, há a história do personagem Kurt da sua infância à idade adulta. Só por isso, o filme já merece ser visto. Eu me envolvi demais com o filme, em especial, pela busca de Kurt por sua expressão artística. Com mais de três horas de duração, eu não desviei os olhos da tela, o que já significa muita coisa. Só admito que minha sede de justiça se frustrou pelo desfecho de certo personagem (sem spoiler, quem assistir entenderá). O filme tem uma fotografia belíssima, tendo, inclusive, concorrido ao Oscar 2019 nessa categoria. A interpretação do trio principal - Tom Schilling como Kurt, Sebastian Koch como Professor Seeband e Paula Beer como Ellie - está perfeita, com destaque para Tom Schilling cujos olhos falam mais que qualquer expressão verbal. No elenco, ainda, Saskia Rosendhal como Elizabeth. A obra é beeeeem bacana, envolvente, criativa e intelectualmente provocadora. Foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e ao Globo de Ouro na mesma categoria em 2019 e ao Leão de Ouro em Veneza 2018. Vale bastante à pena, só esqueça o título em português, please.

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