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  • hikafigueiredo

"O Abrigo", de Jeff Nichols, 2011

Filme do dia (361/2020) - "O Abrigo", de Jeff Nichols, 2011 - Curtis (Michael Shannon) começa a ter pesadelos recorrentes acerca de uma grande tempestade que trará uma espécie de caos para si e para sua família. Sem ter muita certeza do que significa tais pesadelos, ele decide construir um abrigo para sua família, com um custo considerável para a sua vida.





Situando-se no limite entre o drama e o suspense, o filme é hábil em criar expectativas e tensão junto ao público, seguindo os passos do personagem central. Apesar de entregue à sua decisão de construir um verdadeiro "bunker", Curtis não afasta a possibilidade de estar vivendo um delírio paranoide, tendo em vista um histórico familiar de esquizofrenia. Curioso que é justamente o episódio de surto materno que Curtis vivenciou que desperta a necessidade premente do personagem de jamais abandonar sua família, defendendo-a a todo custo, mesmo que isso tenha custos consideráveis para ele e para os seus (sem spoilers). A narrativa é linear, entremeada pelos insistentes pesadelos de Curtis. O ritmo lento não impede que, paulatinamente, a tensão se instale e ganhe força. A atmosfera geral mescla angústia e urgência, ainda que a sensação de dúvida jamais se afaste, trazendo um peso considerável à obra. A maior força do filme está na forma como o personagem Curtis é construído - a cada episódio de pesadelo, Curtis fecha-se mais e mais e passa a ter comportamentos considerados estranhos e até mesmo questionáveis pelos que o rodeiam. Talvez Curtis não fosse tão interessante não fosse o claro empenho de Michael Shannon em trazer volume ao personagem - Curtis tem "camadas", ele segue sua decisão de construir o abrigo, mas, paralelamente, pesquisa sua saúde mental, ele vivencia uma torrente de emoções contraditórias, mas permanece retraído e calado, e Shannon consegue transmitir muito bem toda essa tormenta interior de Curtis (até porque o ator já tem um olhar denso e transtornado por natureza). Acompanhando Shannon, temos um trabalho muito consistente de Jessica Chastain, interpretando Samantha, esposa de Curtis - a atriz é sempre uma força da natureza, não tem nem o que dizer, ela é fenomenal. O desfecho, aberto, certamente vai desagradar alguns espectadores, mas também não vi outra possibilidade que não aquela. A obra é bastante interessante, principalmente pelo torvelinho de emoções que desperta. Eu gostei e recomendo.

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