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"O Babadook", de Jennifer Kent, 2014

hikafigueiredo

Filme do dia (42/2019) - "O Babadook", de Jennifer Kent, 2014 - Amelia (Essie Davis) é uma mãe depressiva e exausta. Viúva - seu marido faleceu em um acidente, no momento em que ela era levada, às pressas, para a maternidade para ter o bebê -, Amelia cuida sozinha de seu filho Sam (Noah Wiseman), um garoto com problemas de relacionamento. O encontro de um livro estranho é o início de terríveis acontecimentos ligados à mãe e ao filho.





Oh, Lord... Não estou sabendo lidar com esses filmes de terror interpretativos!!!! Assim como aconteceu bem recentemente com a ótima obra "Ghost Story" (2017), esse filme também vai além do literal, trazendo, em seu bojo, todo um acervo de significados e representações. Ainda que diferentes interpretações possam ser tiradas da obra em questão, a que, para mim, faz mais sentido é a que considera o "Babadook" uma representação da depressão de Amelia e a consequente rejeição de Sam por ela. Amelia não consegue lidar com a perda do marido e, inconscientemente, culpa o filho pelo acidente que ceifou a vida do pai. Ela rejeita - também inconscientemente - essa mágoa que tem do menino, assim como nega, para si mesma, a depressão que vivencia, a dor que ainda sente e a revolta pela morte do esposo. Se, de um lado, Amelia traz todos esses sentimentos ruins aprisionados em seu interior, de outro, Sam percebe a rejeição e a ela reage - com pesadelos e medos constantes, Sam impede Amelia de ter uma noite de sono satisfatória, exaurindo a mãe e fazendo com que seu estado geral decaia a olhos vistos. Extenuada, Amelia é tomada por sua depressão e todos aqueles sentimentos negativos vêm à tona na figura metafórica do Babadook. Assim, o "monstro" nada mais é que a representação dos nossos "monstros" interiores - nossos medos, nossas mágoas, nossos ódios - materializados em uma forma física. O filme trata, além da complexa relação mãe e filho, de abuso parental, de falta de empatia, de abandono familiar, de solidão, de culpa e das cobranças vividas pelas mulheres em geral e pelas mães "solo" em particular. Eu fiquei bastante impressionada, diga-se de passagem, com a figura da personagem Amelia: exige-se dela que trabalhe, cuide do filho, da casa, supere suas dores, escute os problemas da irmã, tudo sem reclamar - e a atriz consegue exprimir o peso disso tudo em seu olhar exausto, sua linguagem corporal meio alquebrada e suas alterações de humor súbitas e, por vezes, violentas. Aliás, o filme fala muito da condição feminina, sobre as cobranças relacionadas ao gênero. Bom... em suma, o filme está mais para um dramático tratado psicológico do que para filme de terror, ainda que, formalmente, seja uma obra deste gênero, mais especificamente de terror psicológico (nada de "jumpscare", ainda bem). Temos alguns bons efeitos especiais, construção de uma atmosfera pesada e um desfecho bem diferente e interessante (gostaria de falar dele, mas seria spoiler; quem quiser comentar algo sobre isso nos comentários, avise tratar-se de SPOILER, please). Destaque para as interpretações de Essie Davis e para o pequeno Noah Wiseman, ambos ótimos. O filme é muito bom, mas deve agradar mais que gosta de drama do quem quem gosta de terror...

 
 
 

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