“O Casamento de Muriel”, de P. J. Hogan, 1994
- hikafigueiredo
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Filme do dia (129/2025) – “O Casamento de Muriel”, de P. J. Hogan, 1994 – Muriel (Toni Collette) é uma jovem australiana que mora em uma pequena cidade litorânea com a família disfuncional. Levando uma vida enfadonha e inútil, sendo desprezada pelo pai e sem ter qualquer amigo, Muriel tem o grande sonho de casar-se, acreditando que isso será a prova de que sua vida mudou. Quando reencontra Rhonda (Rachel Griffiths), uma antiga colega de escola, as coisas começam a acontecer para Muriel.

O filme, apresentado como uma “comédia hilariante” (sic) é, na verdade, um drama amargo com brevíssimos alívios cômicos e um desfecho minimamente otimista, que trata, antes de tudo de desespero. Muriel vive uma existência vazia e humilhante, daquelas impossíveis de se aguentar por muito tempo. Completamente solitária, sendo constantemente apontada como uma inútil pelo pai, sem relação de afeto com o restante da família e sem uma única amizade sincera, Muriel vaga pela vida como um zumbi. Seus poucos momentos de alegria consistem em ouvir músicas do grupo Abba, de quem é fã ardorosa, e sonhar com o dia do seu casamento, visto por ela como o clímax de sua vida. De uma maneira torta, Muriel reencontra Rhonda, que fora sua colega de escola, e acaba fazendo amizade com ela. Mas o desespero continua pesando para Muriel, pois sua baixíssima autoestima e suas ilusões acerca do mundo não a abandonam tão facilmente. Será através da dor e de muita amargura que Muriel terá a chance de mudar algo que lhe parecia certo e inalterável e reinventar-se, sem, no entanto, negar sua natureza e história. O filme discorre sobre ilusões, solidão, medo, mentiras, relacionamentos tóxicos, autoimagem negativa, disfuncionalidade, atitudes impensadas, escolhas erradas e, como eu disse atrás, desespero, mas, também, sobre amizade, esperança, perdão, coragem para tentar novos caminhos e, claro, amadurecimento e redenção. Não é uma obra com uma atmosfera agradável e, na minha humilde opinião, chega a ser cruel apresentá-lo como uma comédia – onde está a graça em acompanhar uma existência tão vazia e dolorosa? Pelo menos o desfecho – nada surpreendente, mas catártico - aponta para um horizonte mais promissor, caso contrário seria o caso de cortar os pulsos! Como drama, o filme se sustenta muito bem e consegue alcançar mais profundidade do que se acredita em um primeiro momento. Os pontos altos do filme são a trilha sonora recheada de músicas do Abba (dá licença, eu gosto!) e a interpretação de Toni Collette em início de carreira, ainda na Austrália, que já acenava com um futuro promissor – sua Muriel é uma personagem tão desamparada, tão despreparada, tão iludida! O espectador, num primeiro momento, quer acolhê-la, mas, a certa altura, também consegue ter uma raiva desmedida da protagonista – mudanças não são fáceis e o caminho é tortuoso e cheio de avanços e retrocessos, perdoem Muriel e deem uma chance a ela rs! Toni Collette já mostrava seu talento com essa personagem cheia de camadas e nuances! Rachel Griffiths, por sua vez, interpreta uma Rhonda abusada, livre e autêntica, mas com o mesmo passado desesperador de Muriel – vale comentar a semelhança da atriz com a também atriz Juliette Lewis (são idênticas!!!!!). Destaque para a apresentação da música “Dancing Queen” na viagem, um raro momento feliz do filme! Eu gosto da obra, a vejo mais complexa do que se supõe e acho a direção de P. J. Hogan bastante segura. Mais uma vez, é claro que o filme não existe em qualquer streaming (não sei como vocês gostam tanto desses serviços...) – para vê-lo há que se recorrer à mídia física ou ao torrent.



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