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  • hikafigueiredo

"O Dinheiro", de Robert Bresson, 1983

Filme do dia (221/2020) - "O Dinheiro", de Robert Bresson, 1983 - Dois adolescentes vão a uma loja e nela desovam uma nota falsa. Essa ação desencadeará uma série de consequências que destruirão a vida de Yvon (Christian Patey), um pacato e honesto trabalhador.





Nessa obra-prima do diretor Bresson, baseada em um conto de Tolstói, temos um retrato de como o dinheiro interfere na sociedade e na vida dos indivíduos. O filme começa mostrando como uma conduta aparentemente desimportante pode acarretar consequências devastadoras. O dinheiro surge, aqui, como um personagem à parte; ele transita, insidiosamente, entre os seres humanos, destruindo vidas, reputações e caracteres. A obra, ainda, mostra como as pessoas podem, espontaneamente, se "coisificar", transformando-se em mercadoria e passíveis de serem compradas e vendidas. De maneira assustadora, acompanhamos a capacidade dos indivíduos de serem imorais, desleais, ingratos, cruéis e irresponsáveis quando se trata de sua relação com o tão famigerado dinheiro, essa "criatura abstrata" que, como o personagem Mephistópheles, seduz e coopta para o mal qualquer mortal. O filme é hábil em mostrar o poder do dinheiro e é um tapa na cara do espectador, habituado a lidar, diariamente, com esse pequeno mensageiro do demo. Achei muito interessante a "câmera" do filme - ela permanece, com frequência, na altura das coisas e do dinheiro, isto é, ela enquadra, não o corpo humano como um todo, mas ela "recorta" esse corpo, mostrando apenas o que está à altura das mãos, quase como se fosse a visão deste nosso personagem fluído, que é o dinheiro. Assim, muitas são as cenas em que cabeças e pernas são cortadas, restando apenas parte do tronco e mãos - remetendo à já mencionada coisificação dos indivíduos. O roteiro é bem amarrado, ainda que tenha sentido uma quebra entre o começo - quando acompanhamos as ações de vários personagens - e o meio/fim - quando a história mantém-se focada no personagem Yvon. Achei a fotografia do filme um pouco esmaecida e granulosa, o que foi compensada pelos planos exóticos já mencionados. A narrativa é linear e o ritmo é pausado, mas não excessivamente. No início, principalmente, temos vários personagens, mas o destaque fica por conta de Yvon, interpretado com competência por Christian Patey. A obra ganhou o prêmio de Melhor Direção em Cannes em 1983, merecidamente. O filme é espetacular, mas há que se fazer uma leitura da obra para chegar ao seu potencial; sem esta leitura, o filme perde demais em conteúdo, um desperdício. Vale cada minuto de duração (e sobra, porque o filme é curtinho, só 84 minutos), adorei e recomendo!!!!

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