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hikafigueiredo

“O Escarlate e o Negro”, de Jerry London, 1983

Filme do dia (115/2023) – “O Escarlate e o Negro”, de Jerry London, 1983 – Vaticano, 1943. O monsenhor Hugh O’Flaherty (Gregory Peck), um padre irlandês e alto funcionário da Cúria Romana, empenha-se em esconder e manter em segurança todo e qualquer refugiado durante a ocupação nazista em Roma. Aproveitando-se de sua imunidade devido à neutralidade da Igreja Católica durante a Segunda Guerra e contando com a ajuda de centenas de anônimos, ele coordena, de dentro do Vaticano, as ações em defesa desses refugidos, causando a fúria do Coronel Herbert Kappler (Christopher Plummer), o chefe da SS em Roma.





Esse telefilme produzido pela CBS narra a história real do monsenhor Hugh O’Flaherty, padre que ousou enfrentar o poderia nazista em Roma durante sua ocupação e responsável direto por salvar a vida de milhares de refugiados durante esse período. Sem fazer distinção entre judeus, membros da resistência ou ex-combatentes das mais diversas nacionalidades, O’Flaherty coordenava ações que visavam esconder, manter em segurança ou conduzir para fora das fronteiras italianas todos aqueles que, de alguma forma, eram alvo da gana sanguinária nazista. Como tinha imunidade decorrente da posição neutra da Igreja Católica, valia-se disto para manter-se em segurança dentro do Vaticano, muito embora arriscasse-se, com frequência, além das fronteiras da cidade-estado. Sua audácia em confrontar o chefe da SS local tornou-o persona non grata e alvo do Coronel Kappler, quem ocupava o posto, motivo pelo qual foi jurado de morte caso fosse surpreendido fora do Vaticano, além de sofrer atentados mesmo no interior da sede da Cúria Romana. A obra é baseada no livro “The Scarlet Pimpernel of the Vatican”, de J. P. Gallagher, o qual relata, com detalhes, as façanhas do padre O’Flaherty. Algo que me incomodou um pouco na narrativa é a maneira um tanto quanto condescendente como retrata o Papa Pio XII – ainda que entenda sua posição de neutralidade frente à Alemanha nazista, uma vez que o Vaticano teria sido facilmente varrido do mapa pelo exército alemão, acredito que ele poderia ter sido minimamente atuante em prol das vítimas durante seu papado, mesmo que sob os panos, coisa que não o fez. Na obra, o Papa Pio XII é mostrado como alguém com boas intenções, mas com as mãos atadas, o que eu, particularmente, não acho que foi o caso – acredito, piamente (com perdão do trocadilho), que o papa não via como tão problemático a perseguição e assassinato do povo judeu. A narrativa é linear, em ritmo moderado, com alguns “sprints” pontuais. A atmosfera é tensa – o formato da obra é de um bom thriller e admito que funciona muito bem como tal, mantendo o espectador em alerta constante. Apesar do capricho como foi feito – com um desenho de produção de época esmerado, fazendo uso das mais belas locações da Itália e do Vaticano -, é perceptível que se trata de um filme para televisão e não uma obra para cinema, principalmente em decorrência da fotografia meio lavada (não sei exatamente como eram feitos os filmes para tv na época, não sei se era usada película como no cinema, mas é visível uma diferença na imagem). A trilha musical, assinada pelo genial Ennio Morricone, tem uma pegada militar e, por vezes, um tom de música de igreja, que funciona muitíssimo bem no filme. O elenco estrelado não poderia ser mais adequado: como o padre Hugh O’Flaherty, o excepcional Gregory Peck, um ator versátil, mas com uma insuspeita veia cômica, aqui muito bem usada em algumas cenas do personagem – O’Flaherty é retratado não apenas como um homem tenaz, mas, também, com certo humor irônico; como o Coronel Herbert Kappler, o sisudo Christopher Plummer, ótimo no personagem (não posso ver o ator que imediatamente tenho vontade de rever “A Noviça Rebelde”, 1965 rs); como Papa Pio XII, Sir John Gielgud – o papel não exige muito dele, mas nunca é demais elogiar esse ator fantástico; no elenco, ainda, Olga Karlatos como Francesca Lombardo, Barbara Bouchet como Minna Kappler, Ralf Vallone como padre Vittorio, dentre outros (elenco gigantesco). O filme é fácil de assistir - a despeito de seus 143 minutos de duração -, é envolvente e desperta interesse. Gostei bastante e recomendo.

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