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hikafigueiredo

"O Estudante de Praga", de Paul Wegener, 1913

Filme do dia (353/2020) - " O Estudante de Praga", de Paul Wegener, 1913 - O estudante Balduin (Paul Wegener) é o melhor esgrimista de Praga, o que lhe rende certa notoriedade, mas nenhum dinheiro. Um viajante - o misterioso Scapinelli (John Gottowt) - se oferece para comprar alguma coisa de Balduin para lhe render algum dinheiro, o que ele prontamente aceita. O estudante, então, assina um documento no qual aceita um alto valor pela venda de qualquer coisa que exista em seu quarto - mas o que Scapinelli escolherá será aterrorizante e terá consequências nefastas na vida de Balduin.





Considerado por muitos como um dos primórdios do Expressionismo Alemão, o filme trabalha nos limites entre o drama, a fantasia e o terror e tem vaga inspiração na obra de Edgar Allan Poe, "Fausto", de Goethe, e em um poema de nome "A Noite de Dezembro", de Alfred de Musset, cujo trecho é exposto no filme. Devo dizer que, ainda que guarde um ritmo quase insuportável para o público de hoje, a obra tem um argumento impecável e realmente assustador, tão bom que gerou diversas refilmagens. A narrativa é linear e o ritmo bastante lento - na realidade, tive a sensação de que cada plano era "esticado" até seu limite, como se o diretor quisesse ter certeza de que todos os espectadores haviam entendido a mensagem que ele queria passar, motivo pelo qual diria que o filme é um tanto quanto "prolixo", ainda que este seja um termo talvez inadequado para um filme mudo rs. Outra particularidade da obra é que ela tem pouquíssimos quadros explicativos se comparada a outros filmes mudos, o que talvez explique a insistência do diretor em alongar os planos e cenas já mencionada. A atmosfera é sombria e me gerou certa agonia - sem entrar em detalhes para não estragar a experiência, o filme trabalha a ideia de um duplo espectral que acompanha o personagem Balduin, o que resulta nessa agonia no estudante e tem reflexo certo no espectador. A fotografia P&B não chega a ser tão contrastada como as demais obras expressionistas que a precederam e tampouco temos as imagens assimétricas. Algo que me chamou a atenção, foi o uso, por algumas vezes, da profundidade de campo - uma cena ocorrendo em primeiro plano, enquanto outra ação corre em um segundo e até mesmo terceiro plano, o que já era certa ousadia para esse cinema nascedouro. Temos, também, o uso frequente da dupla exposição do negativo gerando duas imagens e que era um "efeito especial" largamente utilizado na época desde os filmes de Méliès e que, aqui, serviu para criar a ideia do duplo de Balduin. O filme foi um dos primeiros a ter uma música criada especialmente para a sua projeção, de autoria de Josef Weiss. As interpretações, como era habitual, são extremamente teatrais, mas destaco as expressões faciais de Paul Wegener, a graça sedutora de Lyda Salmonova como Lyduschka e a expressão corporal de John Gottowt como Scapinelli. A história é bem bacana, bastante sinistra e eu gostei bastante. Recomendo.

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