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  • hikafigueiredo

"O Fantasma de Yotsuya", de Nobuo Nakagawa, 1959

Filme do dia (262/2021) - "O Fantasma de Yotsuya", de Nobuo Nakagawa, 1959 - O samurai Iemon Tamiya (Shigeru Amachi) pede em casamento Iwa (Katsuko Wakasugi), a filha de um nobre, o qual nega o pedido. Ressentido, ele mata o homem e, junto com Naosuke (Shuntarô Emi), um empregado do nobre, arquiteta um plano para responsabilizar outra pessoa, aproximando-se, assim, da jovem com quem quer se casar.





Baseada numa peça de kabuki, a qual também originou um dos contos do "Kwaidan", de Lafcadio Hearn, e que posteriormente deu origem ao filme "Kwaidan - As 4 Faces do Medo" (1964), essa história de terror discorre sobre a principal crença japonesa ligada ao sobrenatural - a de que pessoas mortas injustamente voltam para se vingar (assunto tratado em inúmeros filmes japoneses do gênero, como "Ring - O Chamado", 1997, e "Juon - O Grito", 2000). A história gira em torno do personagem Iemon, um samurai pobre e decadente que, desejando se casar com uma jovem, assassina o pai da moça que se negara a permitir a relação. Essa é só a primeira morte de uma série de assassinatos que Iemon comete, sempre na traição, para alcançar seus objetivos egoístas e mesquinhos, até que uma de suas vítimas retorna para se vingar do ronin. A história tem ótimos elementos para induzir o medo no público, mas traz um ritmo completamente estranho ao espectador ocidental dos dias atuais. Como quase tudo da cultura tradicional japonesa, a narrativa é lenta, pausada, exaurindo todas as reações e emoções possíveis de cada cena. O problema é que isso faz com que o espectador tenha tempo - de sobra - para intuir o que irá acontecer muitíssimo antes dos acontecimentos ocorrerem de fato. Okay, a história se caracteriza por ser um terror psicológico, não esperaria um jumpscare, mas é tããããão lenta que esgota até mesmo a angústia típica do gênero... Eu tive a impressão de estar vendo um grande e contínuo spoiler, o que esvaziou completamente as possíveis sensações de medo. A narrativa é linear, com grandes elipses de tempo, o que não modifica a questão do público prever o que irá acontecer logo adiante. Por outro lado, se a história é previsível e esvaída de seus elementos passíveis de impor medo, a forma é surpreendentemente vanguardista para a época. Na década de 50, o cinema japonês era caracteristicamente marcado por planos fixos, quase sempre planos médios, muitas das vezes lembrando um teatro filmado. Também era muito mais comum a película P&B, raros eram os filmes coloridos. Pois aqui o diretor subverte isso tudo. A obra começa com um longo plano sequência acompanhado de uma câmera em movimento, em um travelling horizontal que acompanha a ação. A câmera em movimento voltará a acontecer em diversos momentos da obra, algo bastante incomum para o cinema japonês da década de 50. A fotografia, colorida, também tem função na criação de atmosfera , abusando das cenas em tons quentes (sempre na cor vermelha) ou frios (tons azuis). A trilha sonora mantém-se nas músicas tradicionais japonesas. As interpretações remetem ao teatro tradicional japonês, pois são pouco naturalistas, marcando bem expressões faciais e corporais. Dos intérpretes, destacaria o trabalho de Katsuko Wakasugi, que interpreta a sofrida Iwa, a personagem mais dramática da história (mas não a única). Apesar de ver virtudes na obra, admito que me cansou um pouco o ritmo lento dela, na minha opinião demasiado para o gênero. Também demora "uma eternidade mais meia hora" o primeiro acontecimento sobrenatural da história, o que também contribuiu para o meu aborrecimento (afinal, a graça do filme de terror é que exista o terror!). Enfim, é um filme interessante mas que, para mim, não funcionou dentro do gênero que se propõe. Indico mais para quem tem interesse na cultura japonesa do que para quem quer ver filme de terror.

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