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hikafigueiredo

"O Grande Desfile", de King Vidor, 1925

Filme do dia (146/2021) - "O Grande Desfile", de King Vidor, 1925 - James Apperson (John Gilbert) é o filho bon-vivant de um rico empresário norte-americano que, por impulso, alista-se no exército durante a Primeira Guerra. Ele é enviado para a França, onde conhece Melisande (Renée Adorée),. uma humilde camponesa, e por ela se apaixona. O envio ao front separará os enamorados e fará com que James descubra os horrores da verdadeira guerra.





Um filme de guerra, mudo, com duas horas e meia de duração - imaginei o suplício que seria assisti-lo. Não poderia estar mais enganada. Este, que foi o filme mudo com maior bilheteria da história do cinema, mostrou-se interessantíssimo, muito bem desenvolvido e verdadeiramente arrebatador. King Vidor conduz o espectador por uma montanha-russa de emoções - fui completamente manipulada pelo diretor! A obra inicia-se mostrando James como um personagem mimado e egoísta, usufruindo da vida mansa que o pai rico lhe proporciona. Por pressão da namorada e de amigos, acaba alistando-se no exército assim que os EUA entram no conflito da Primeira Guerra. O personagem é enviado à França, onde permanece aguardando o momento de ser enviado ao front. Na pequena cidade onde se encontra, conhece Melisande, uma jovem humilde, por quem se encanta. O longo arco, romântico e com alívios cômicos, com uma atmosfera leve, agradável e animada, faz com que o espectador "relaxe", baixe qualquer guarda e até esqueça de que se trata de um filme de guerra. Destaque para a cena do barril, muito divertida. Subitamente, estando o espectador bem descontraído, o baque: a divisão de James é chamada para o front e os enamorados precisam se separar. O clima leve dá lugar à tensão e põe por terra qualquer visão romântica da guerra - o combate é feio, é cruel, é vazio. Ainda que a obra não mostre o horror da guerra com a crueza de outras obras como "Vá e Veja" (1985), "Apocalipse Now" (1979) ou "O Medo" (2015), eu diria que tem algumas cenas bem impactantes, extremamente bem engendradas para compensar a ausência de som. A chegada de James e seus amigos ao front, avançando lentamente pelo território inimigo, é uma aula de cinema: em primeiro plano temos James e os soldados Slim e Bull, a câmera fixa em suas expressões de concentração e tensão. Ao fundo, outros soldados avançam e, pouco a pouco, eles vão caindo, um a um, atingidos pelo exército inimigo. Evidente que minha descrição não alcança a sensação que a cena causa no público, mas é impressionante como aquilo me gerou angústia, principalmente pelo silêncio que acompanha a imagem. Seguem-se cenas do conflito, muito peso emocional, lembrando que, há pouco, estávamos sob o clima romântico do arco antecessor. Destaque para a cena do encontro de James com o soldado alemão dentro do buraco causado pelas bombas, trazendo a ideia da inutilidade e ausência de sentido das guerras. Não vou além para não dar spoiler, mas garanto que o filme consegue mesclar bem as duas questões diametralmente opostas - o amor de James e Melisande e o impacto da guerra. O casal central formado pelos atores John Gilbert e Renée Adorée tem muita química e, considerando o estilo de interpretação específico do cinema mudo, ambos os intérpretes saíram-se muito bem. A obra é ótima, principalmente por "brincar" com o emocional do espectador com muita habilidade. Eu gostei demais e entra para a lista de filmes mudos prediletos. Recomendo com afeto!

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