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  • hikafigueiredo

"O Idiota", de Akira Kurosawa, 1951

Filme do dia (49/2021) - "O Idiota", de Akira Kurosawa, 1951 - Após ser salvo, nos últimos minutos, de uma injusta condenação à morte por fuzilamento, o ex-soldado Kinji Kameda (Masayuki Mori) desenvolve uma espécie de epilepsia e uma ligeira demência que o impedem de perceber a maldade ao seu redor. Com sua extrema bondade e capacidade de compreensão e perdão, Kameda envolve-se com a cortesã Taeko (Setsuko Hara), embora se apaixone por Ayako (Yoshiko Kuga), sem perceber intenções por sob suas interações com as demais pessoas.





Baseado na obra homônima de Fiódor Dostoiévski, o filme retrata a impossibilidade da sobrevivência de uma pessoa com total bondade na alma. Seu personagem Kameda é um homem completamente puro, incapaz de enxergar a maldade, os interesses e as segundas intenções daqueles que o rodeiam e com quem convive. Ele tem especial capacidade de ver "além", percebendo as dores alheias e sendo empático com todos. Ele rapidamente percebe o sofrimento da personagem Taeko e dela se compadece. Tendo como norte a compaixão pelo próximo, Kameda inicialmente desperta o desprezo de todos com quem cruza e que o ridicularizam e ofendem. No entanto, sua extrema ingenuidade, sua legítima bondade e sua piedade pelos outros acabam, depois de algum tempo, tocando as pessoas, que se envergonham de suas condutas anteriores e passam a admirar Kameda, o que não impede deste ser vítima de ações egoístas, mesquinhas ou mal intencionadas. O filme - que sofreu sérios problemas na produção, em especial porque a produtora exigiu que Kurosawa abreviasse a obra, inicialmente com mais de 4 horas de duração -, ainda que não siga detalhadamente a história do romance, é hábil em discorrer sobre a ética, a bondade, a compaixão e a compreensão. Os personagens foram muito bem explorados, em especial Kameda, Taeko e Akama, graças às interpretações poderosas de seus intérpretes. Masayuki Mori mostrou-se grandioso como Kameda - o personagem, com um eterno olhar de incompreensão e uma linguagem corporal que revela certo receio, com as mãos sobre o peito segurando, de maneira insegura, a borda do casaco mostrou-se sempre doce e compassivo; Setsuko Hara, diva eterna, está maravilhosa como a contraditória Taeko - vítima de muito sofrimento, a concubina mostra-se, por vezes, egoísta e traiçoeira, e, em outros momentos, generosa e sonhadora, sentido um legítimo afeto por Kameda; Toshiro Mifune - na minha opinião o maior ator japonês de todos os tempos - também arrasa como o violento e instável Akama - ninguém sabe fazer expressões insanas como Mifune, não tem para mais ninguém!!! No elenco, ainda, outro grande ator - Takashi Shimura -, além de Yoshiko Kuga como Ayako - também em grande interpretação. Destaque para a cena do enfrentamento de Taeko e Ayako - o embate facial das duas, seus olhares e mínimas mudanças de expressão são inacreditáveis e evidenciam a capacidade das duas atrizes; destaque ainda para a cena da festa no gelo e para a cena final de Kameda e Akama - Toshiro Mifune dando show!!!! Não vou dizer que é meu filme predileto do Kurosawa - lugar ocupado pelo irretocável "Trono Manchado de Sangue" (1957), seguido de perto por "Os Sete Samurais" (1954), "Viver" (1952) e "Rashomon" (1950) - mas ainda é uma obra incrível de um diretor brilhante. Vale cada minuto de suas 2h46min! Recomendo.

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