Filme do dia (69/2023) – “O Mafioso”, de Alberto Lattuada, 1962 – Antonio (Alberto Sordi) é um pacato gerente de fábrica siciliano radicado no norte da Itália. Após anos sem férias, decide tirá-las para visitar sua cidade natal, levando consigo sua esposa e filhas. Na Sicília, ele encontrará parentes, velhos amigos e Don Vincenzo (Ugo Attanasio), o “capo” local.
Esse curioso filme de humor ácido vem retratar um pouco da vida no sul da Itália, mais precisamente da Sicília, berço da Máfia. Nosso personagem Antonio leva a família para sua cidade natal, em parte para desconstruir a imagem negativa que todos têm dos sicilianos, invariavelmente relacionados ao crime organizado. No entanto, chegando ao local, ele revê Don Vincenzo, que nada mais é que o chefe mafioso da região, conhecido e temido por todos. Se, num primeiro momento, o contato é leve e simpático, logo essa feição se modificará, quando Don Vincenzo pede uma “gentileza” a Antonio, confirmando, assim, todo o estereótipo que o protagonista pretendia descontruir. Com humor, o diretor faz uma crítica ao poder do crime organizado no país (e no mundo), expondo o quão longe os tentáculos da Máfia alcançam e seu reflexo na vida de pessoas comuns. A narrativa é linear, num ritmo moderado, tornando-se mais ágil em seu clímax. Apesar do tema central – a abrangência do crime organizado – a atmosfera é leve e divertida na maior parte do tempo. Formalmente, a obra é bastante convencional, ainda que, em seu clímax, seja um pouco mais ousada, trazendo uma sequência de planos rápidos que imprime toda a tensão que não existiu no restante da narrativa. A fotografia é um P&B suave que pouco interfere no estabelecimento de atmosfera da obra. O elenco, ponto alto do filme, traz o ótimo Alberto Sordi na figura de um homem simples, extremamente sério no trabalho, esposo e pai de família exemplar, bem-humorado e otimista, que se vê envolvido em uma trama espetacular do qual não consegue se desvencilhar. O ator faz um trabalho excelente como Antonio – impossível não se comover com a situação delicada em que o protagonista se vê. No papel de Marta, esposa de Antonio, a “nossa” fantástica Norma Bengell, muito bem na personagem, que exige pouco da atriz; Gabriella Conti interpreta Rosália, irmã de Antonio, que protagoniza uma cena que me deixou desconfortável quanto aos padrões sociais impostos às mulheres (e que eu não entendi a relevância para a história); Ugo Attanazio interpreta o “chefão” Don Vincenzo, com um trabalho sólido apesar do pouco tempo em cena. Filme interessante, fácil de assistir, agradável e crítico sem ser “pesado”. Uma boa pedida, recomendo.
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