Filme do dia (87/2018) - "O Medo", de Damien Odoul, 2015 - França, 1914. O jovem Gabriel (Nino Rocher) anima-se com sua convocação para a guerra contra a Alemanha no início da 1a Guerra Mundial. Junto com seus melhores amigos, vai para o front. No entanto, a guerra mostra-se bem mais assustadora do que ele imaginava.
Baseado no livro "La Peur", de Gabriel Chevalier, onde o autor narra sua experiência no front da 1a Guerra Mundial, o filme percorre um caminho idêntico ao da excepcional obra "Vá e Veja", de Elem Klimov - inicialmente, o personagem anima-se com a guerra, vendo, nela, uma grande aventura a ser vivida com intensidade; no entanto, à medida em que vivencia verdadeiramente a guerra, com seus horrores, atrocidades, sofrimentos e mortes, todo o romantismo acerca dela esfacela-se, sobrando unicamente a dor e o medo. Crítico e filosófico, o filme desfaz qualquer noção idealista ou valorosa da guerra - não, ela não é bonita, ela não é nobre, ela não digna; ela é feia, suja, cruel e desnecessária. A obra faz críticas cirúrgicas, ressaltando que quem comanda a guerra fica sempre atrás de uma mesa, longe do campo de batalha e em segurança. A ideia de que o soldado é "carne" dispensável perpassa o filme inteiro - e o personagem sente isso na pele. A obra é quase tão incômoda como o já mencionado filme "Vá e Veja", o qual, inclusive, é homenageado em "O Medo" através de uma evidente citação a 1h20min, quando a cena mais famosa daquela obra é reproduzida. Várias são as cenas de campo de batalha com homens e animais mortos, mutilados ou eviscerados - essas cenas, no entanto, não são nada dispensáveis; ao contrário, são essenciais para compreender o horror da guerra, mas exigem certo estômago do espectador. A história é narrada subjetivamente a partir do conteúdo das cartas de Gabriel para sua amada Marguerite, sua namorada. Uma narrativa em "off" acompanha todo o filme como se "lesse" essas cartas (idêntico ao filme português "Cartas da Guerra", de Ivo Ferreira). A obra é muito bem realizada, e as cenas das trincheiras são extremamente pesadas e angustiantes. A obra é ótima, prende a atenção e faz pensar. Recomendadíssimo.
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