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“O Nome da Morte”, de Henrique Goldman, 2018

  • hikafigueiredo
  • 29 de set.
  • 3 min de leitura

Filme do dia (75/2025) – “O Nome da Morte”, de Henrique Goldman, 2018 – O jovem Júlio (Marco Pigossi) sai de seu vilarejo natal para a cidade grande junto com seu tio Cícero (André Mattos) acreditando que fará concurso para a Polícia Militar, mas, na realidade, ele acaba sendo aliciado pelo tio para se tornar matador de aluguel.


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Baseado na história real do serial killer/assassino de aluguel Júlio Santana, que, ao longo de trinta e cinco anos, realizou cerca de 492 assassinatos, dentre os quais muitos ligados a questões políticas durante a ditadura militar, o filme acompanha a trajetória do assassino, mostrando a dicotomia entre os aspectos social e “profissional” de Júlio. A história começa ainda na juventude de Júlio, quando ele sai de sua cidade natal acompanhando um tio que lhe promete ajudar a entrar na Polícia Militar. Entretanto, o tio, na realidade, o apresenta ao mundo do crime, aliciando-o para que se torne um assassino profissional. Dono de uma mira invejável e necessitado de dinheiro, Júlio, rapidamente, perde eventuais freios morais e abraça a “profissão”, manchando de sangue o caminho por onde passava. A narrativa, no entanto, revela que, coabitando o assassino frio e sanguinário, existia um Júlio religioso e dedicado à família. É curioso que a narrativa é construída de tal forma que a figura de Júlio desperta a simpatia do espectador – ele não é mostrado como o assassino covarde que realmente era, que trocava dinheiro pela morte de inocentes, mas como um homem simples e amoroso com os seus, e que, por vezes, sofria pelos atos que cometia, rezando pelas almas de suas vítimas. Poucas vezes vi filmes assim, tão hábeis em torcer o significado daquilo que retratava. A história humaniza tão bem o assassino que quase nos esquecemos de quem ele era, a demonstrar o perigo de uma narrativa bem construída diante de eventual ausência de questionamento. Além de evidenciar essa manipulação da narrativa, o filme ainda retrata a corrupção existente na política e no interior das forças policiais – a obra não esconde que muitos dos mandantes dos assassinatos eram pessoas ligadas a cargos políticos, dispostos a tudo para acabar com seus desafetos, assim como deixa clara a leniência das corporações policiais quanto a tais assassinatos claramente “encomendados”. Também é sintomática a hipocrisia que orbita o meio religioso, mais especificamente, o cristão neopentecostal (alguma surpresa?) A narrativa não-linear mescla passagens dignas de filmes de ação – com perseguições, fugas e assassinatos – com outras mais dadas ao gênero drama – quando o espectador é levado a conhecer os dramas pessoais e familiares do protagonista. O ritmo é bem-marcado, com algumas passagens menos ritmadas. A atmosfera geral é de tensão, mas, também de tolerância – seria moralmente mais aceitável se a obra nos desperta-se algum horror, o que, na verdade, não acontece. Destaque para o elenco que traz Marco Pigossi muito bem como o dicotômico Júlio; Fabíula Nascimento interpreta a esposa Maria – eu sempre gosto do trabalho da atriz, pois a acho versátil e talentosa, e aqui não foi diferente; André Mattos, por sua vez, interpreta o tio Cícero – ele está fantástico em cena, pois não esconde o canalha que é por baixo de toda a simpatia e acolhimento ao sobrinho, num ótimo trabalho. No elenco, ainda, Matheus Nachtergaele, Tony Tornado e Augusto Madeira, dentre outros. Eu achei o filme muito bem conduzido e fiquei chocada em como uma boa narrativa pode ser manipuladora rs! Eu gostei e acho que vale a visita. Disponível para alugar no Apple TV, na Prime Video e no Youtube filmes.

 
 
 

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