Filme do dia (97/2022) - "O Olho do Diabo", de J. Lee Thompson, 1966 - Após os vinhedos do Marquês Philippe de Montfaulcon (David Niven) definharem ao longo de três anos, ele é chamado de Paris para seu castelo no interior da França para tentar reverter a situação. Sua esposa Catherine (Deborah Kerr), incomodada com a ausência prolongada do marido, vai ao seu encalço e se dirige para as terras da família junto com seus filhos pequenos. Lá chegando, ela descobre que estranhos cultos pagãos estão sendo realizados para trazer de volta a chuva e, consequentemente, a fertilidade daquelas terras.
Seguindo a linha do folk horror, a obra discorre sobre magia, cultos pagãos e lealdade a antigas religiões tradicionais de um lugarejo no interior da França. Ainda que a narrativa flua com certa facilidade, analisando um pouco melhor a história, percebem-se algumas inconsistências difíceis de explicar e defender. Sem incorrer em spoilers - o que acabaria com a graça da experiência cinematográfica em questão - só questiono a fidelidade de um dos personagens a uma determinação ancestral muito pouco verossímil e completamente ilógica, bem como eventual consequência da quebra de um pacto. Assim, apesar de ser uma narrativa agradável, sofre de uma fragilidade basal na história. A narrativa é linear, em ritmo bem marcado. A atmosfera de mistério e tensão, curiosamente, vai se dispersando quanto mais nos aproximamos do fim e, sinceramente, o desfecho me deixou bastante decepcionada - acho mesmo que, ao fim, a obra até se afasta do gênero terror, aproximando-se mais de um drama fantástico. Na minha opinião, o que o filme traz de melhor é sua forma, bem mais criativa que a média das produções da época. A fotografia P&B aproveita-se da câmera em movimento para criar efeitos de vertigem, transe e tensão, muito bem colocados na história. A fotografia também faz uso de jogos de luz e sombra, marcando bastante o contraste entre os dois extremos, além de aproveitar posicionamentos de câmera bem inusuais e criativos. Não sei se pela presença de Deborah Kerr, mas várias cenas me remeteram ao fantástico "Os Inocentes" (1961). O elenco, cheio de nomes de respeito, é composto por David Niven no papel de Marquês de Montfaulcon - eu adoooro o ator, mas, sinceramente, achei uma péssima escolha para o papel, uma vez que Niven é quase a personificação da fleugma britânica, impossível vê-lo como um francês; apesar disso, Niven saiu-se bem em sua interpretação, o que não é nenhuma surpresa; a personagem Catherine ficou a cargo de Deborah Kerr, que, embora escocesa, não carrega tanto o estereótipo britânico, de modo que ficou mais à vontade no papel que seu companheiro de elenco; o personagem Christian de Caray foi interpretado por David Hemmings, mais conhecido por sua participação em "Blow Up - Depois Daquele Beijo" (1966); aqui, o ator entrega, numa ótima interpretação, um personagem enigmático e com uma aura sombria; Donald Pleasence interpreta o Padre Dominic; e, no primeiro papel de destaque no cinema, Sharon Tate interpreta Odile de Caray - lindíssima, mas com a expressividade de um chuchu. Well... o filme não chega a ser ruim, mas também não é daqueles que marcam e, provavelmente, em uma semana nem vou mais me lembrar dele. Em todo caso, vale para amantes de folk horror.
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