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  • hikafigueiredo

“O Olho do Mal”, de Claude Chabrol, 1962

Filme do dia (75/2023) – “O Olho do Mal”, de Claude Chabrol, 1962 – O jornalista Albin Mercier (Jacques Charrier) é enviado para o sul da Alemanha para fazer uma série de reportagens sobre a vida no local. Ali ele conhece o famoso romancista Andreas Hartmann (Walther Reyer) e sua esposa Hélène (Stéphane Audran). A exuberante felicidade do casal despertará a inveja do jornalista, que fará de tudo para acabar com ela.





Sublime drama de Chabrol, a obra se apresenta como uma minuciosa representação da inveja, retratando até onde aquele que a sente é capaz de chegar. Na história, temos um jornalista e escritor medíocre – Albin Mercier – que é colocado frente a frente a um célebre romancista alemão, apontado como o próximo expoente da literatura do país. Inicialmente, o jornalista ressente-se da capacidade profissional do escritor, mas, logo, outros elementos serão motivo para despertar a inveja no rapaz – o sucesso, a riqueza e a simpatia de Andreas, tão diferente de Albin, farão com que o jornalista emule o escritor. Mas será a relação entre Andreas e sua esposa Hélène, aparentemente perfeita e completamente apoiada na lealdade e cumplicidade do casal, que será o grande objeto do ressentimento de Albin e o motor de suas ações, pois ele fará qualquer coisa para destruir aquela felicidade ultrajante. Assim, com as piores intenções, Albin se aproxima do casal, invade sua intimidade fazendo parecer que ali florescia uma grande amizade e passa a cercar Hélène, desejando-a para si. Acho incrível como Chabrol desconstruía as relações humanas e sociais em seus filmes, mostrando como elas eram na sua essência, muito diferentes de sua aparência. Neste filme há uma dupla desconstrução, pois, além da falsa amizade do jornalista com o casal, o diretor revelará que nenhuma relação amorosa é assim tão ideal e perfeita. A narrativa é linear, em ritmo inicial moderado, mas crescente, atingindo um ritmo intenso em seu clímax. A atmosfera é de certo mal-estar, vez que o ponto de vista assumido é sempre o do jornalista – a inveja que Albin sente é tão profunda que parece material ao espectador. A fotografai P&B é suave, sem grandes contrastes, mesmo nas cenas mais tensas, e a trilha musical, econômica e bastante pontual. O elenco traz – claro – Stéphane Audran como Hélène (o diretor tinha verdadeiro fascínio e obsessão por este nome, muito antes do novelista Manoel Carlos insistir em suas personagens “Helenas” em seus folhetins), uma mulher sofisticada, extremamente gentil e educada, maravilhosamente interpretada pela atriz; no papel de Albin Mercier, o belo Jacques Charrier – o trabalho do ator é excelente e faz com que o espectador desenvolva verdadeira aversão ao personagem; e, completando o triângulo amoroso, Walther Reyer como o expansivo e célebre Andreas Hartmann, com uma interpretação acertada e bem condizente. Ainda que a obra não seja considerada um grande filme do diretor Chabrol, eu gostei do tema e achei a imagem da inveja desenvolvida na narrativa bastante envolvente e convincente. Já estou fã do diretor, cuja filmografia me era bem pouco conhecida. Gostei e recomendo.

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