Filme do dia (19/2016) - "O que Resta do Tempo", de Elia Suleiman, 2009 - 1948. Nazaré é ocupado e anexado por Israel e sua população árabe palestina passa a viver sob os ditames de Israel. Neste contexto, começamos a acompanhar a história da família Suleiman, pontuando quatro momentos de sua trajetória (1948, 1970, 1976 e 2009).

O filme, autobiográfico, narra quatro períodos da história do diretor. O primeiro retrata a juventude de Fuad, pai de Elia Suleiman, e sua luta na resistência; o segundo, mostra Fuad já adulto, adaptado à ocupação israelense, mas alvo de perseguição política; o terceiro, revela a juventude do diretor; e, o último, a idade madura de Elia, aqui como um espectador dos acontecimentos naquele território ocupado. O filme pode ser considerado como uma comédia dramática - mas o humor aqui é refinado, crítico, ácido, irônico, mordaz. Em alguns momentos, a graça está justamente no absurdo de uma situação que tem muito de realidade. A crítica à ocupação do território palestino por Israel permeia toda a obra, mas sempre com um toque de humor. Há, ainda, um questionamento quanto ao futuro daquele lugar e daquelas pessoas, bem pontuado, no início do filme, quando o motorista do táxi se perde e verbaliza as frases "Onde eu estou? Para onde devo ir? Estou perdido!". O filme faz várias referências ao cinema, desde o morador que assobia a música de "O Poderoso Chefão", até a foto de Marilyn Monroe (quando ainda era Norma Jean) para a Playboy que insiste em ficar à mostra na cena do lotação. Curti bastante o visual do filme.... os enquadramentos sempre recortados, o uso reiterado de molduras (portas, janelas, paredes), a construção minuciosa de cada quadro, as câmeras fixas, os enquadramentos abertos, tudo me foi bastante agradável. O ritmo do filme é lento, principalmente no último momento retratado, onde Elia Suleiman (interpretado por ele mesmo) é espectador dele mesmo. Gostei bastante e recomendo para quem curte esse ritmo mais pausado.
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