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  • hikafigueiredo

“O Que Terá Acontecido a Baby Jane?”, de Robert Aldrich, 1962

Filme do dia (39/2024) – “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?”, de Robert Aldrich, 1962 – Duas irmãs – Baby Jane (Bette Davis) e Blanche (Joan Crawford) -, que no passado fizeram sucesso, respectivamente, no teatro de variedades e em Hollywood, convivem em uma mansão após Blanche sofrer um acidente e perder o movimento das pernas. A relação, no entanto, torna-se cada vez mais problemática à medida em que Baby Jane afunda-se em seus devaneios.




 

Baseado no romance homônimo de Henry Farrell, o filme discorre sobre a conturbada relação entre duas irmãs que tiveram, em algum momento, as vidas marcadas pela fama. Após terem se alternado no universo das celebridades, Baby Jane e Blanche, já entradas em anos, guardam sentimentos bastante contraditórios uma pela outra. Tal relação mostra-se marcada pela inveja, ciúme, rancor, despeito e crueldade, levando ambas ao limite. A obra conta com uma pequena introdução, a qual retrata a infância de sucesso de Baby Jane, enquanto Blanche era sumariamente ignorada pelo pai de ambas, seguida por uma inversão de situação anos depois, quando Blanche se torna uma célebre atriz de Hollywood e Baby Jane passa a ser desprezada pelo público. Ainda no prólogo, o acidente que vitimiza Blanche explica a condição em que ela se encontrará anos depois, entrevada em uma cadeira de rodas e à mercê de sua irmã. É um thriller com ambos os pés no terror psicológico e, apesar de alguns exageros, ainda funciona bem. A obra tem algo de perverso ao expor, com certo prazer e com algum humor ácido, a crueldade de Baby Jane para com sua irmã desvalida, aproveitando cada cena nos mínimos detalhes e estendendo, ao máximo, a tensão causada. A narrativa segue uma escalada de loucura e violência de Baby Jane, que, rapidamente, perde o contato com a realidade. A narrativa é linear, em ritmo moderado e crescente. A atmosfera do filme é de tensão constante – chega a dar agonia a situação de sujeição em que Blanche se encontra, completamente dependente de Baby Jane. Curioso é que o filme guarda um louco plot twist, o qual vem subverter todas as nossas impressões sobre as duas protagonistas.  A obra traz uma estética gótica, com uma fotografia P&B muito marcada, e um desenho de produção igualmente carregado. Impossível falar deste filme sem mencionar a conhecida rivalidade entre as duas atrizes que o protagonizaram. Com interpretações diametralmente opostas – enquanto a Blanche de Joan Crawford é contida e sofisticada e traz um aparente equilíbrio, a Baby Jane de Bette Davis é uma tresloucada, debochada e fora da realidade -, as duas atrizes travam uma batalha épica em cena. Existe um exagero um pouco caricato em Baby Jane, inclusive na aparência dela, mas que Bette Davis consegue transformar em algo estupendo. Adorei as cenas em que Baby Jane se faz passar por Blanche ao telefone – fantástica a mudança. Confesso que gostei mais da interpretação discreta de Crawford, mas foi Davis quem conquistou uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz em 1963. No elenco, ainda, Victor Buono excelente como Edwin Flagg, Maidie Norman como Elvira e Anna Lee como Sra. Bates. O filme dividiu opiniões na época de seu lançamento, mas foi indicado à Palma de Ouro em Cannes (1963), perdendo para o imbatível “O Leopardo”, de Luchino Visconti; concorreu ao Globo de Ouro (1963) nas categorias de Melhor Atriz em drama (Bette Davis) e Melhor Ator Coadjuvante (Victor Buono); no Oscar (1963), além de na categoria de Melhor Atriz, o filme também foi indicado às categorias de Melhor Ator Coadjuvante (Buono), Melhor Fotografia P&B, Melhor Figurino (P&B (vencedor) e Melhor Som; e no BAFTA (1964) concorreu na categoria de Melhor Atriz Estrangeira (Davis). Eu vejo um diálogo interessante deste filme com o excepcional “O Crepúsculo dos Deuses” (1950) – há uma similaridade bem bacana entre Baby Jane e Norma Desmond. Como já mencionei, há algo “over” na obra, mas isso não estraga seus méritos e não impede o espectador de ter uma experiência eletrizante. Vejam... vale a pena.

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