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  • hikafigueiredo

"O Retorno", de Andrey Zvyagintsev, 2003

Filme do dia (206/2018) - "O Retorno", de Andrey Zvyagintsev, 2003 - Após doze anos de ausência, o pai de Andrey (Vladimir Garin) e Ivan (Ivan Dobronravov) reaparece e, sem qualquer explicação, leva-os para uma viagem. O contato do homem com os filhos adolescentes, no entanto, será marcado por suspeitas e conflitos.





Filme de estreia de Andrey Zvyagintsev ("Leviatã", "Desamor") na direção, a obra é um road-movie com forte apelo dramático. Como nos filmes posteriores do diretor, aqui também temos dois níveis de leitura. No primeiro e mais óbvio, temos o drama do ressurgimento de um pai ausente que passa a exigir respeito e obediência dos filhos, os quais, no entanto, têm reações diferentes à súbita presença paterna. Enquanto Andrey, o mais velho, apega-se à imagem do pai, Ivan - o qual não possui qualquer lembrança do genitor - desconfia daquele que se apresenta como seu pai e insurge-se, constantemente, contra sua autoridade. A relação familiar, então, estabelece-se apenas no conflito, o pai tentando, através da força, restabelecer vínculo com os filhos que sequer conhece. No segundo nível de leitura, temos uma metáfora da situação da Rússia após a derrocada do regime socialista - os filhos (a população) abandonados pelo pai (o governo) não lhe reconhecem mais autoridade e rebelam-se contra o poder que lhe é atribuído, questionando-o. A narrativa flui bem, num ritmo bastante lento, mas muito instigante. Há certa tensão no ar, em especial no conflito estabelecido entre Ivan e o pai e considerando as suspeitas do menino em relação à figura paterna. A ausência repentina da mãe - até então a imagem da proteção dos filhos, em especial, de Ivan - também cria angústia no espectador. Esteticamente, o filme é bastante cru, frio. Apesar das belíssimas paisagens, a fotografia em tons frios e a paleta de cores escuras, trazem certa melancolia e muito "peso" às imagens. As interpretações, todas ótimas, trazem dramaticidade aos personagens, com destaque para Ivan Dobronravov, cujo olhar de repreensão a tudo o que o pai sugere e expressão de repúdio constante (que só se desfaz ao acontecer um evento trágico - sem spoiler) são excepcionais. Curti demais a obra, como tudo o que já havia visto do diretor. O filme ganhou o Leão de Ouro em Veneza e foi merecido!! Obra rica, densa e dramática. Recomendo.

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