Filme do dia (79/2020) - "O Selvagem da Motocicleta", de Francis Ford Coppola, 1983 - Rusty James (Matt Dillon) é um adolescente desajustado e sem perspectiva que vive se metendo em brigas e promovendo arruaças. Ele sonha com o retorno de seu irmão, conhecido como "The Motorcycle Boy" (Mickey Rourke), um antigo líder de gangue, famoso na pequena cidade industrial onde ambos viviam.
Diria que o filme é um "Juventude Transviada" pelo olhar de Francis Ford Coppola. A obra mergulha no universo da juventude pobre e sem perspectiva, envolta em violência e cujos ídolos nada mais são do que os próprios jovens em suas piores versões. O personagem Rusty James vive à sombra de seu irmão,que fora um conhecido líder de gangue, numa época em que fazer parte de uma gangue era sinal de status e garantia de respeito por seus pares. Rusty admira essa época e sonha com o retorno do prestígio das gangues, assim como aguarda o retorno de seu irmão. No entanto, quando o reencontro acontece, Rusty não consegue entender seu irmão, o qual amadureceu e tomou consciência de sua própria falta de perspectiva e de seu "desencaixe" do mundo. É interessante acompanhar os diálogos e como o filme se desenvolve através do confronto dos dois irmãos: de um lado, o quase inocente Rusty, pois completamente inconsciente de sua condição, de quão atolado em nada ele e sua família estão, de seu futuro inexistente, vivendo para idolatrar uma quase miragem que é seu irmão; de outro, "The Motorcycle Boy", o irmão, envelhecido interna e externamente, consciente de suas limitações, desiludido com a vida, mas com alguma esperança de tirar Rusty daquilo que parece ser seu óbvio destino. A obra tem um fundo filosófico interessante, mas que dá um certa depressãozinha básica no espectador. Visualmente, o filme é incrível, com uma estética que lembra muito os filmes noir. A fotografia P&B bem demarcada, com posicionamentos de câmera diferentes e sofisticados e o uso de tudo que a fotografia pode oferecer (temos plongées e contra-plongées, cenas com grande profundidade de campo, planos extremamente próximos, fechando em detalhes, uso de detalhes coloridos,enfim, temos de tudo um pouco) fazem do filme um verdadeiro espetáculo visual. A direção de arte também brinca com a estética de filme noir e posiciona a obra em um ambiente que é impossível identificar exatamente em que época se passa, mas lembra algo anos 50 ou 60. Várias são as cenas em que o som é usado para criar atmosfera (óóóó!!!! Eu percebi!!!!). Matt Dilon, lindinho, está ótimo como Rusty James, ele tem um quê meio abobalhado apesar de se achar o maioral do pedaço, assim como parece ligeiramente infantilizado em suas fantasias apesar de pretender ser um "bad boy" (e isso fica mais claro quando de seu confronto com Smokey); Mickey Rourke como "The Motorcycle Boy" é interessante - acredito que tenha sido escolhido para o papel para o personagem parecer realmente mais envelhecido (ele teria 21 anos, mas Rourke tinha, na época, 31 anos) e também por ele ter uma certa imagem de "bad boy", mas com uma fala macia, pausada, uma coisa meio "monge tibetano" completamente descolada de seu visual, o que, para o personagem, era bem adequado (mas admito que sua voz mansa me irritou o filme todo); no papel de pai alcoólatra dos meninos, ninguém menos que Dennis Hopper - como sempre, perfeito; no elenco, ainda, Diane Lane como Patty, Nicolas Cage como Smokey, Chris Penn como B. J. Jackson, Laurence Fishburne como Midget e Tom Waits (eu o adoro!!!!), como o barman Benny. O filme é ótimo, merecia maior reconhecimento, mas demorei um pouco para embarcar nele (talvez tenha sido o sono que eu estava; qualquer hora revejo e identifico o porquê de eu ter demorado para "entrar" nele). É uma bela viagem visual também. Recomendo.
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