“O Som da Queda”, de Mascha Schilinski, 2025
- hikafigueiredo
- há 5 horas
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Filme do dia (90/2025) – “O Som da Queda”, de Mascha Schilinski, 2025 – A vida de quatro garotas, de diferentes gerações, ao longo de um século, que estão interligadas pelo espaço físico de uma fazenda em Altmark, Alemanha.

Uma pequena fazenda em Altmark, norte da Saxônia, Alemanha, é palco para a vida de quatro meninas diferentes e de gerações diversas ao longo de cem anos. De cada uma são mostrados fragmentos aleatórios de suas vidas, cujos direcionamentos parecem ecoar uns nos outros. O filme é completamente sensorial – o que o espectador “recebe” são sensações, breves flashes das vidas das quatro jovens, cuja ligação parece estar nas paredes daquela fazenda. Sem ter como definir exatamente, percebemos que os acontecimentos nas vidas de cada uma das personagens, refletem no que ocorre com as demais meninas, criando uma tênue linha tempo-espacial que as interligam. A narrativa é totalmente não linear, pois mesmo considerando solitariamente cada bloco, o tempo é fluído e não obedece a qualquer cronologia. É um filme delicadamente poético, etéreo, que mostra, vagamente, as dores e problemas intrinsicamente femininos e como elas permanecem ao longo de gerações. Sem desprezar a beleza e poesia da obra, ela me deixou duas “más impressões”. A primeira é que nada do que é mostrado é explorado com profundidade – por exemplo, o machismo que fazia, no começo do século XX, pais disporem das vidas de suas filhas sem que elas pudessem opinar ou negar é exposto, mas como uma rápida pincelada no tema e... pronto, percebe-se que isso traz alguma consequência, mas o filme já está abordando alguma outra questão relacionada à personagem ou às demais meninas e aquilo ficou ali, na superficialidade. A segunda é que eu tive a impressão de estar sempre a um passo da compreensão completa da obra: desde o início, eu fiquei procurando um acontecimento ou informação que “amarrasse” todas as histórias e que “fechasse” o combo de narrativas, mas isso não veio e nem aconteceu. Tudo é muito fluido e isso me deu a sensação de compreensão se esvaindo, como se eu tentasse reter segurar, com as mãos, algo não material. Não sei se eu me fiz entender, mas foi o sentimento que ficou mais forte em mim. A obra é muito interpretativa e ainda mais sensorial, meu conselho é não tentar “fechar” sua ideia de filme e apenas senti-lo, percebê-lo no âmbito das emoções mais do que das ideias. Independente de qualquer coisa, o filme é belíssimo, contando com uma fotografia colorida marcada por luzes e cores delicadas que nos dão a sensação de estar entrando num túnel do tempo e vivenciando aquelas experiências. As histórias são pontuadas por diferentes narradores, que se substituem ao longo da narrativa, inclusive dentro de cada bloco: em uma hora um narra, depois estes é substituído por outro personagem, incluindo aqueles que relatam a própria morte. Gostei bastante do desenho de produção que aborda as mais diferentes épocas e que nos ajuda a nos situarmos no tempo e na história. Enfim... o filme terminou e eu não tinha nenhuma certeza, só um certo amargor na boca, já que a beleza não afasta o teor sombrio dos acontecimentos que incluem suicídios, mortes naturais, doenças, desaparecimentos e por aí vai. A obra foi agraciada com o Prêmio do Júri no Festival de Cannes (2025), motivo pelo qual está muito “hypado”. Eu gostei, mas não sei nem explicar o motivo. Quinto filme assistido na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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