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hikafigueiredo

"Ondas" ("Waves"), de Trey Edward Shults, 2019

Filme do dia (258/2020) - "Ondas" ("Waves"), de Trey Edward Shults, 2019 - Tyler Williams (Kelvin Harrison Jr.) é um promissor atleta de luta greco-romana que mantém um firme relacionamento amoroso com Alexis (Alexa Demie). No meio da temporada de lutas, Trey descobre uma grave lesão no ombro, o que pode mudar seus planos de vida e carreira.





O filme retrata, principalmente, dramas e problemas de adolescentes de classe média, mas isso não quer dizer que não tenha muitos conteúdos a tratar. A obra é cindida em dois blocos: no primeiro, temos críticas evidentes à exigência de sucesso, à crença na meritocracia, à forma como eventuais fracassos são conduzidos e à masculinidade tóxica. Tyler é exigido à exaustão por seu pai, pelo treinador e pela sociedade. Visto como atleta promissor, não lhe é permitido qualquer falha, em nenhum âmbito de sua vida. Ele acredita, fielmente, que se ele se esforçar até seu limite, ele terá sucesso em todas as áreas e quando algo desvia daquilo que foi planejado, Tyler não sabe lidar e "espana". Nesse momento eflui do jovem sua masculinidade tóxica - sem conseguir aceitar um possível fracasso e vendo seus sonhos de sucesso ruírem, o rapaz torna-se agressivo e incompreensivo e volta-se contra a família e a namorada, tentando controlar sua vida, suas decisões e seu corpo, com resultado trágico. Aqui, partimos para o segundo bloco, onde a temática se volta para algo mais pessoal e intimista, discorrendo sobre afetos, superação, compreensão, diálogo, reconstrução e a necessidade de perdoar. Talvez por não ser uma pessoa afeita a esse tipo de discurso "elevado", que sempre me soa como papo de auto-ajuda, gostei mais do primeiro bloco, mas não acho que o segundo bloco tenha sido mal conduzido - tratando-se de drama norte-americano, que tinha grandes chances de descarrilhar para um melodrama barato, acho que o diretor se saiu até que bastante bem, tratando com sensibilidade assuntos inegavelmente espinhosos. Por ter essa cisão no meio, achei que a narrativa ficou um pouco fraturada, ainda que não tenha estragado o filme. A narrativa é linear e o ritmo é sereno, com momentos mais marcados, em especial no fim do primeiro bloco. Visualmente é um filme bem bacana, com uma fotografia extremamente bem feita, uma câmera nervosa, com muito movimento e muitos planos ousados e diferentões. A trilha sonora com letras significativas é usada para pontuar os momentos dos personagens - se por um lado eu achei interessante de início, após utilizar esse artifício um sem fim de vezes, achei que ficou um pouco exagerado. O trabalho do elenco é realmente muito bom e marca a obra. Kelvin Harrison Jr. consegue dar substrato ao personagem Tyler e até demora para ficarmos incomodados com suas atitudes (até que chega um momento em que é impossível "passar o pano" para o jovem, desculpa aí). Alexa Demie, da mesma maneira, segura muito bem o drama da personagem Alexis. Taylos Russell interpreta Emily, a irmã de Tyler, e é quem segura a onda no segundo bloco do filme, interpretando, com sensibilidade, as muitas questões levantadas. Lucas Hedges é um ator de quem gosto muito, acho seu trabalho consistente e promete mais e, aqui, ele interpreta Luke, outro atleta do time de Tyler. Para completar o elenco, Renée Elise Goldsberry como a madrasta dos dois irmãos e Sterling K. Brown como o pai dos jovens. O filme é um drama familiar bem construído, com enfoque maior nos filhos, mas que também abarca os adultos, e que se desenvolve bem apesar do cheirinho de auto-ajuda que eu já comentei. Acho que vale a pena, discorre sobre temas importantes e me envolveu bastante. Recomendo.

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