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“Oponente”, de Milad Alami, 2023

hikafigueiredo

Filme do dia (138/2023) – “Oponente”, de Milad Alami, 2023 – Após um boato destruir a reputação de Iman (Payman Maadi), este se vê obrigado a fugir do Irã com sua esposa Maryam (Marall Nasiri) e suas duas filhas, refugiando-se na Suécia. No novo país, Iman busca um centro de treinamento de wrestling para continuar sua carreira de competidor no esporte, mas o fantasma do boato que os expulsou do Irã ressurgirá com força total.






Angustiante. Este é um filme muito angustiante. Trata-se de uma obra sobre escolhas e sobre a complexidade do ser humano. Iman é um marido e pai iraniano que possui profundo amor e senso de responsabilidade pela sua família. Ele precisa fugir do país quando boatos sobre ele surgem, colocando sua vida em risco. Iman e sua família se refugiam na Suécia, onde pedem asilo. No novo país, Iman volta a treinar Wrestling, esporte no qual era um competidor renomado quando no Irã. Ali ele conhece e faz amizade com Thomas (Björn Elgerd), mas a proximidade com o rapaz faz com que Maryam, esposa de Iman, reviva o objeto do boato que os expulsou de sua terra natal, criando uma nova tensão no seio da família. Assim, Iman é levado a ter de escolher entre o esporte e sua amizade com Thomas ou a família que tanto adora. Ainda que a questão seja revelada ao longo da história, não é necessário mais que alguns minutos para perceber que o cerne da narrativa está na orientação sexual de Iman, pois a câmera que passeia demoradamente por corpos masculinos nus não deixa qualquer espaço para dúvida. Logo Iman se vê dividido entre o amor por Maryam e as filhas e a evidente atração que tem por Thomas. Pense bem: se assumir uma homossexualidade já é complicado em um país onde ser gay não é crime, imagine fazer isso em um país muçulmano, onde ter relações sexuais com alguém do mesmo sexo pode ser punido com prisão, castigos corporais ou até mesmo a morte. No entanto, a maior angústia do filme nem é o risco de vida que Iman correu em seu país natal, mas a dificuldade do protagonista em escolher entre seus amores. O espectador, solidário, percebe o profundo sofrimento do personagem, que transita, indeciso, entre os dois extremos, incapaz de abandonar um dos lados, negando, assim, sua própria natureza e seus sentimentos. A narrativa é linear, com uma ou outra cena em flashback, em ritmo moderado e constante. A atmosfera é de tensão e pressão crescentes, é uma sensação de claustrofobia que se impõe – não uma claustrofobia por um espaço exterior exíguo, mas por Iman encontrar-se encerrado em si mesmo. Formalmente é um filme bem convencional, mas extremamente bem feito e realizado. A fotografia colorida em tons quentes, acolhedora, aproxima o espectador daquela situação. Do desenho de produção, chamou a minha atenção os ambientes das casas de acolhimento dos refugiados – espaços muito pequenos e apertados, repletos de pessoas das mais diversas origens, uma verdadeira “babel” espacial. Ainda que as famílias tentassem trazer suas histórias para aquele espaço, tornando-o mais íntimo e acolhedor, eu o senti completamente desumanizado. Quanto às interpretações, destaque absoluto para Payman Maadi, que consegue trazer todo o peso de seu personagem Iman para a tela. Marall Nasiri também merece elogios por sua interpretação de Maryam – a esposa faz uma leitura bastante precisa da situação e, como Iman, precisa escolher qual caminho trilhar. A atuação de Björn Elgerd, por sua vez, não chamou muito a minha atenção, talvez por estar meio desprovida de tensão ou pelo personagem trazer a notória frieza nórdica. O filme é muito bom, muito sensível e não senti julgamentos por parte dele, o que já é uma grande coisa. Eu gostei demais e recomendo.

 
 
 

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