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hikafigueiredo

“Os Noivos”, de Ermano Olmi, 1963

Filme do dia (70/2023) – “Os Noivos”, de Ermano Olmi, 1963 – O operário Giovanni (Carlo Cabrini) deixa seu antigo emprego em Milão e vai para a Sicília, onde terá cargo e salário melhores. Sua noiva Liliana (Anna Canzi) permanece em Milão, criando uma crise na relação.





Nesse belíssimo filme de Ermano Olmi, temos a representação de uma relação amorosa em seus diferentes momentos – do início apaixonado à crise que sugere o fim -, sempre com um olhar atento e empático para o casal envolvido. O diretor foi extremamente habilidoso e feliz na sua maneira de contar a história, pois, do início ao término do filme, há uma delicada evolução dos sentimentos envolvidos e da própria relação. O foco principal é o protagonista Giovanni: ele comunica sua noiva de sua decisão de aceitar um emprego em outra cidade, o que gera uma reação indignada na magoada Liliana. O rapaz muda-se de Milão para a Sicília e passamos a acompanhar o cotidiano do jovem, claramente vazio e solitário. Os dias vão passando e percebemos o peso de sua solidão na cidade desconhecida, ao mesmo tempo em que o personagem rememora seu relacionamento com a noiva abandonada. A forma como os sentimentos de Giovanni evoluem é surpreendente e Olmi expõe essa progressão nos detalhes, fazendo uso de pouquíssimas falas e palavras. A obra é daquelas que envolvem o espectador pelas emoções que desperta e não pelo discurso – é um filme profundamente sensorial e muitíssimo delicado. O tempo é não linear, ainda que seja perceptível um eixo cronológico principal em meio às reminiscências do protagonista. O ritmo é lento, mas ele tem uma estranha cadência, como uma dança suave entre dois enamorados. A atmosfera, como a história, evolui com o tempo – há um momento em que o clima fica pesado e afluem sentimentos negativos; há um tempo de angústia, em que a reflexão impera; e há mesmo o tempo de decisão e alívio, onde a atmosfera é leve, até mesmo amorosa. Gostei bastante do terço final da obra, onde recebemos a informação de a quantos anda a relação do casal através das cartas trocadas entre Giovanni e Liliana. A fotografia P&B alterna momentos mais ou menos suaves, com planos bem variados e muitos movimentos de câmera. A trilha musical aproveita bastante a música diegética (a música presente no universo ficcional), seja a do salão de baile em que o casal costuma se encontrar, do carnaval da Sicília ou de um bar visitado por Giovanni. A montagem do filme faz um recorte interessante de toda a relação do casal – o fio condutor é menos o tempo cronológico e muito mais a evolução sentimental do protagonista, de forma que temos um verdadeiro “patchwork” de momentos dos personagens. O elenco praticamente se resume à dupla Carlo Cabrini e Anna Canzi e, embora o ator permaneça em cena quase a totalidade da obra, é nas cenas em que encontramos Anna Canzi que a emoção atinge seu grau máximo – a expressividade e o olhar da atriz são memoráveis! O filme é delicadíssimo e, quando ele terminou, me vi apaixonada pela obra. Gostei demais e recomendo.

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