Filme do dia (133/2020) - "Os Olhos sem Rosto", de Georges Franju, 1960 - Após um acidente de carro que desfigurou sua filha Christiane (Edith Scob), o cirurgião plástico Dr. Génessier (Pierre Brasseur) fará de tudo para reconstruir a face da jovem, mesmo que isso signifique sequestrar outras moças para lhes roubar os rostos.
Nos deparamos, aqui, com mais um filme de suspense classificado como terror. Desde o início da obra, percebemos que o médico fará qualquer coisa para trazer de volta um rosto para sua filha, motivo pelo qual não me surpreendi, em momento algum, pelo desencadear da narrativa. Aliás, para mim, esta é a única falha do filme - ele é bastante previsível, ainda que não haja, nele, qualquer esforço para criar cenas de jumpscare ou a intenção de tirar, de qualquer lugar, algum plot twist. O terreno da obra é o terror psicológico, aquela sensação de tensão crescente, e a angústia de não saber se a operação de transplante de rosto será bem sucedida ou não - o que significaria, no segundo caso, um novo rastro de sangue e morte. Acho que o que é mais perturbador na obra é a imagem da jovem Christiane, que precisa usar, no dia a dia, uma máscara branca recobrindo seu rosto desfigurado. A inexpressividade da máscara, que nos permite ver apenas os olhos angustiados da personagem, é bastante perturbadora, pois, aconteça o que acontecer, lá está aquele rosto inerte, imóvel, sem vida, a contrastar com os olhos tristes, mas vívidos, de Chirstiane. De resto, um pouco mais do mesmo - o sequestro e a morte das jovens vítimas que tiveram seus rostos removidos de seu corpo pelo cirurgião (detalhe: o cirurgião, em momento algum, intenciona matar as vítimas; ele só quer seus rostos e até tenta cuidar das jovens para que resistam à cirurgia... ainda que ninguém queira viver sem rosto, né? Ou seja... ele é friamente objetivo e, ainda que cruel, não é simplesmente um lunático psicopata serial killer). O filme tem algumas passagens bem angustiantes e é hábil em criar uma tensão leve mas constante. A fotografia é P&B, bem marcada e a música pontua, com cuidado, as cenas de tensão. Quanto aos atores, Pierre Brasseur é competente para fazer um Dr. Génessier angustiado e repleto de culpa, ainda que mantenha sua altivez e arrogância de grande médico; Alida Valli está muito bem como Louise, a ajudante do cirurgião; e Edith Scob precisa fazer um esforço sobre humano para passar emoções só com seus olhos à mostra. É um filme bem interessante, um terror gótico (para mim, mais suspense que terror, mas vá lá) que funciona. Eu gostei. Recomendo.
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