top of page

"Os que Chegam com a Noite", de Michael Winner, 1971

  • hikafigueiredo
  • 27 de jun. de 2021
  • 2 min de leitura

Filme do dia (221/2021) - "Os que Chegam com a Noite", de Michael Winner, 1971 - Após a morte de seus pais em um acidente, Flora (Verna Harvey) e Miles (Christopher Ellis) são deixados sob os cuidados de Miss Jessel (Stephanie Beacham), uma professora particular. Mas as crianças serão verdadeiramente influenciadas por Peter Quint (Marlon Brando), o jardineiro da casa, um tipo rude por quem sua preceptora se apaixonará.





Concebido para ser um "prequel" da obra "Os Inocentes" (1961), o filme trata dos acontecimentos imediatamente anteriores à história daquela e discorre sobre a influência dos adultos nas crianças, a perda da inocência e a sedução da maldade. Antes de qualquer coisa, é um filme extremamente perverso - as crianças, na faixa dos dez, doze anos, mergulham em um ambiente doentio, de relações baseadas em poder e dominação e com grande dose de crueldade envolvendo a professora e o jardineiro. É uma obra um tanto perturbadora pois assistimos à lenta perda de inocência das crianças colocadas precocemente em contato com situações bastante sexualizadas, inclusive não consentidas. O espectador pode se preparar pois o filme traz cenas de sadomasoquismo, bondage, estupro, agressões, assassinato e até sugere incesto entre os irmãos - definitivamente não é uma obra leve, mas está longe de ser aquela coisa exagerada dos filmes slasher; não, é bem pior, justamente por trazer certa sutileza perversa, o que confunde as crianças e as leva a ter comportamentos profundamente desviados. A narrativa é linear, em um ritmo moderado. A atmosfera chega a ser incômoda pois acompanhamos uma verdadeira deturpação das duas crianças que se tornam paulatinamente mais maliciosas e manipuladoras - eu me senti realmente perturbada com os acontecimentos envolvendo os dois irmãos. Apesar do teor degenerado, o roteiro é muito bem desenvolvido e alinhavado. O filme traz uma direção de arte caprichada que resgata a Inglaterra vitoriana e uma fotografia bela e poética que se contrapõe ao conteúdo insidioso. A obra apoia-se bastante na concepção dos personagens e nas interpretações dos atores. Marlon Brando nunca deixa a peteca cair e está ótimo como o grosseiro e bruto jardineiro que domina a todos na casa, com exceção da velha governanta, que tenta afastá-lo das crianças, sem sucesso. Peter Quint consegue ser, a um só tempo, sedutor e cruel, uma combinação muito "perigosa". Stephanie Beacham interpreta a professora doce e submissa, completamente dominada pelo jardineiro a ponto de permitir sua interferência na relação com as crianças - a atriz também cumpre muito bem o papel. Mas são as crianças Verna Harvey e Christopher Ellis quem surpreendem, pois conseguem mesclar inocência, maldade, perversão, doçura, tudo junto - os personagens Flora e Miles são complexos e profundamente contraditórios, seduzidos e sedutores, muito bem interpretados. Okay, o filme não é tão bom quanto o excepcional "Os Inocentes", talvez um dos melhores filmes de terror já realizados, mas não deixa de ter envolvente, enredando o espectador na mesma teia que os personagens. Eu gostei bastante e recomendo.

 
 
 

Comments


bottom of page