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  • hikafigueiredo

“Papai Por Acaso”, de Preston Sturges, 1944

Filme do dia (19/2023) – “Papai Por Acaso”, de Preston Sturges, 1944 – A jovem Truddy (Betty Hutton) anima-se ao saber que haverá um baile de despedida para os soldados que partem para a guerra em sua pequena cidade interiorana de Morgan’s Creek. Seu severo pai viúvo, no entanto, a proíbe de ir. Decidida a estar presente na festa, Truddy alega que vai ao cinema com seu amigo Norval (Eddie Bracken), um correto bancário órfão que é apaixonado pela moça, mas, de última hora, abandona o rapaz e corre para o baile. É o começo de uma grande confusão que mudará para sempre a vida dos dois jovens.





Essa divertida comédia de erros apoia-se, principalmente, nas severas regras sociais vigentes na época em que foi filmado e expõe todo o conservadorismo que marcava a sociedade da época. Na história, temos uma jovem ingênua que ousa desafiar uma ordem de seu pai e acaba indo a um baile para soldados prestes a embarcarem para a Segunda Guerra. Ocorre que a moça involuntariamente acaba bêbada e, sem muita noção do que estava fazendo, consente em casar-se com um recruta, chegando a consumar o casamento. No dia seguinte, a moça acorda com a estranha sensação de que estivera em uma cerimônia de casamento, horrorizando-se ao perceber um anel improvisado em seu dedo. Passado um tempo, ela desespera-se ao descobrir-se grávida e passa a imaginar uma forma de salvar sua reputação, nem que para isso precise envolver outras pessoas em uma grande confusão. É curioso como o diretor flerta com a subversão, muito embora mantenha as aparências de acatar as regras sociais: se por um lado temos uma jovem grávida, de outro existe a notícia de que ela, em algum momento, casou com alguém, embora não existam dados certos acerca desse hipotético casamento. Assim, é perceptível que Sturges equilibra-se numa tênue linha que separa o socialmente aceito do que seria terrivelmente malvisto pela sociedade da época, num ousado exercício de provocação e insubordinação. É, ainda, induvidoso que o olhar do diretor para a questão é bastante condescendente – ouso acreditar que Sturges via as regras sociais com muita crítica -, tanto que forjou personagens completamente adoráveis, moldados para serem queridos e defendidos pelo público da obra. O filme guarda alguns elementos das já tão mencionadas “screwballs comedies”, começando pelas situações inusitadas e soluções ainda mais inverossímeis, muito embora não se enquadre tão bem no gênero. A narrativa é marcada por um ritmo intenso mesmo para os dias de hoje – as confusões se sobrepõem umas as outras, de forma que a situação envolvendo os personagens torna-se cada vez mais complicada. A atmosfera é bem suave, ainda que os temas tratados pudessem dar margem a um drama daqueles bem sofridos – Sturges imprime uma leveza rara à história e não há elemento da história que não seja aproveitado de maneira cômica. O roteiro é amarradinho e extremamente simpático, mesmo com as soluções bizarramente criativas encontradas por Sturges, que também assina o roteiro. Destaco o elenco afinado – Betty Hutton interpreta uma Truddy muito menos “esperta” do que a personagem acredita ser; na realidade, Truddy é uma moça bobinha e romântica que entra na confusão justamente por conta de sua inocência; Eddie Bracken interpreta o ingênuo e extremamente correto Norval, que só tem olhos para “sua” Truddy, e que está disposto a qualquer coisa – qualquer coisa mesmo!!! – para protegê-la e defendê-la. No papel de Emmy, a irmã adolescente de Truddy, uma Diana Lynn extremamente à vontade no papel – adorei a personagem, muito mais pragmática que a irmã mais velha. Como o pai severo das meninas, William Demarest. O elenco inteiro está ótimo!!! Destaque para a cena da prisão e para a cena final na maternidade, ambas muito divertidas. Eu confesso que adorei a obra, de uma leveza e alegria ímpares. Recomendo com carinho.

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