Filme do dia (204/2020) - "Pausa", de Tonia Mishiali, 2018 - Elpida (Stella Fyrogeni) é uma mulher de meia idade que busca, na sua imaginação, a válvula de escape para um casamento abusivo e infeliz. Paulatinamente, no entanto, os delírios de Elpida serão mais e mais frequentes, fazendo com que ela confunda realidade e imaginação.
Esse é um filme interessante por tocar em um assunto tão raro no cinema, apesar de ser o destino inevitável de qualquer mulher: a menopausa e todas as questões que vem em seu bojo. Elpida passa por todos os desconfortos de uma mulher no climatério: suadouros, alternância de humor, distúrbio no sono. Mas a alteração hormonal traz mais do que sintomas físicos em Elpida - da mesma forma que seu organismo se modifica, a personagem anseia por mudanças em sua vida. Aqui, o climatério surge como o momento de ruptura entre o que vinha sendo e o que poderia ser. Elpida passa a vivenciar, em sua mente, as atitudes que gostaria de tomar, mas que lhe falta coragem para seguir adiante. Que atire a primeira pedra quem nunca se imaginou esfregando a cara de alguém no asfalto quente (mas, evidentemente, ficou só na vontade). A obra mergulha fundo nesse emocional estritamente feminino, trabalhando diferentes questões do universo da mulher: casamento, dependência financeira, relação com os filhos, sororidade, desejo sexual, e, claro, a questão da menopausa. É uma obra que vai falar diretamente com as mulheres, principalmente com aquelas que já deixaram para trás sua juventude. Duvido que seja um filme que interesse aos homens em geral. A narrativa é completamente focada na protagonista - ela está constantemente em cena - e mistura a realidade com a imaginação delirante dela. Teria muito a falar do desfecho, mas teria de incorrer em spoiler, algo completamente contra a minha religião, então vou guardar para mim e para conversas privadas. O ritmo é lento, mas cresce mais para o fim do filme. A fotografia da obra é esmaecida, refletindo a vida "sem vida" de Elpida. A direção de arte segue a mesma lógica da fotografia - parece que tudo que está em cena é desbotado, sem cor. A interpretação de Stella Fyrogeni é cirúrgica - ela consegue transmitir com sensibilidade as angústias e os anseios por mudança da personagem. No elenco, ainda, Popi Avraam como a amiga Elefhteria e Andreas Vasileiou como o marido Costas. Eu curti muito o filme, mas entendo que estou exatamente dentro do público alvo, talvez a recepção não seja tão boa dentre outros tipos de público. Ainda assim, recomendo.
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