Filme do dia (10/2025) – “Pequenas Cartas Obscenas”, de Thea Sharrock, 2023 – Inglaterra, 1920. No pequeno vilarejo de Littlehampton, a recatada e pudica Edith Swan (Olivia Colman) é atormentada pelo recebimento recorrente de pequenas cartas repletas de ofensas e obscenidades. Todas as suspeitas recaem sobre sua vizinha Rose Gooding (Jessie Buckley) uma jovem de comportamento rebelde e livre de amarras e que vive com um amante e sua filha. Após Rose ser formalmente acusada, inúmeros moradores da cidadela passam a ser vítimas das abomináveis cartas, tornando a situação da jovem perante a lei ainda mais grave.

Inspirada em um acontecimento real, a obra narra, em tom de comédia, o escândalo das cartas obscenas ocorrido em Littlehampton, no início do século XX. Muito embora a história venha marcada pelo humor, o filme discorre sobre assuntos importantes e sérios, tais como a opressão feminina promovida pelo sistema patriarcal e pelas religiões cristãs, os comportamentos socialmente impostos às mulheres, as relações familiares dominadas pelos homens, o silenciamento feminino, o preconceito contra aqueles que não se adequam às regras sociais estabelecidas, os primórdios das lutas feministas, os vícios do sistema jurídico e da segurança pública, a sociedade que incentiva a rivalidade entre mulheres, a falsa moralidade, a hipocrisia, a xenofobia, a sororidade e a busca pela justiça, dentre outros. Com um ritmo ligeiro, a narrativa linear acompanha a indignação da família Swan face às cartas recebidas pela primogênita e solitária Edith – seu autoritário e respeitado pai, revoltado pelo teor escandaloso dos escritos, imputa a autoria à Rose, vizinha rebelde e desbocada, apontando certa similaridade no linguajar obsceno. A polícia, rapidamente, assume a presunção como verdade, e, sem praticamente nenhuma investigação, prende a jovem irlandesa Rose, que é acusada judicialmente pelas injúrias e difamações, correndo o risco de perder a guarda de sua filha. No entanto, uma policial novata – numa época em que esta função começava a ser ocupada por mulheres – percebe certas contradições na história e passa a investigar a questão por conta própria, arregimentando algumas outras mulheres para ajudá-la no intento. A atmosfera da obra é leve e divertida, muito embora o assunto sério de fundo e certo tom de mistério e suspense. Formalmente, o filme é bem convencional e não promove qualquer ousadia. Os destaques ficam por conta do roteiro dinâmico, com bons diálogos – as ofensas são divertidíssimas e incrivelmente criativas -, e pelo desenho de produção de época que reproduz a ambientação da década de 1920. A obra conta com um elenco de altíssima qualidade, encabeçado pela “oscarizada” Olivia Colman como a solteirona Edith – seu trabalho, como de costume, é sólido e ainda tem o mérito de ser muito bem-humorado, mostrando toda a submissão e silenciamento da personagem. No papel de Rose Gooding, a “hypada” Jessie Buckley – então... eu gosto muito da atriz e acho que ela usualmente entrega resultados incríveis, mas achei que aqui ela pesou um pouco a mão na personagem, pois ela já parece escandalosa demais até para os dias atuais, para aquele momento da história me passou algo muito exagerado. Em todo caso, não chega a estragar o filme. Como o patriarca Edward Swan, o veterano e ótimo Timothy Spall – prepare-se para odiar o personagem machista e repressor. No papel da policial Gladys Moss, a expressiva Anjana Vassan, em um ótimo trabalho. No elenco, ainda, Hugh Skinner como um policial incompetente, falastrão e machista. Eu gostei bastante do filme, achei-o divertido e ao mesmo tempo instigante. Encontra-se em streaming no Max e no Prime Video (além de estar disponível para compra na Amazon, na AppleTV e no Youtube).
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