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"Phoenix", de Christian Petzold, 2014

hikafigueiredo

Filme do dia (85/2018) - "Phoenix", de Christian Petzold, 2014 - Alemanha, 1945. Nelly (Nina Hoss) é uma ex-prisioneira do campo de concentração Auschwitz, desfigurada por conta de um tiro. Após ter seu rosto reconstruído, Nelly busca, numa Berlim devastada, reencontrar seu marido desaparecido. No entanto, quando o reencontra, ele não a reconhece e faz uma vil proposta para a suposta estranha.





Essa interessante obra traz uma história particular que, no entanto, permite uma leitura bem mais ampla tendo em vista às evidentes referências ao meio onde se passa. Tal como a personagem Nelly, a Alemanha também se encontra destruída, esvaziada e desfigurada. Através de um longo e sofrido trabalho, tanto a personagem quanto o país são reconstruídos, mas, internamente, os traumas permanecem e, externamente, há certa dificuldade no reconhecimento da nova "situação". Nelly e a Alemanha (no caso, seu povo) tentam, então, entender como se deu todo o seu processo de esfacelamento, questionando, inclusive, suas próprias posturas e crenças. À parte desse paralelo, focando na personagem, há aqui um interessante jogo de esconde e revela entre Nelly e seu marido, o qual se mostra diferente do que supunha a mulher. Como em um quebra-cabeça, paulatinamente Nelly organiza as "peças" até formar uma nova imagem do companheiro. O desfecho, não obstante sutil, é arrasador, o típico "tapa com luva de pelica".A atmosfera geral da obra é pesada, beira à angústia. A narrativa é bem equilibrada e desenvolve-se extremamente bem, em tempo cronológico. A direção de arte é hábil em criar a ambientação destruída do pós-guerra. Destaque absoluto para a música "Speak Low", quase onipresente e com uma importância na história só percebida ao fim do filme (eu, que só conhecia a música através de intérpretes recentes, fiquei surpresa em saber que a música foi escrita em 1928).Nina Hoss interpreta muito bem a personagem Nelly com suas dúvidas, inseguranças e incredulidade face aos acontecimentos. Nina Kunzendorf, no papel de Lene, imprime sobriedade e certo "peso do mundo nas costas" bastante apropriados à história dessa personagem. Ronald Zehrfeld, por seu lado, não me convenceu na interpretação de Johnny, marido de Nelly. O filme é bom, rico em correlações e pode ser visto sem medo.

 
 
 

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