“Pisque Duas Vezes”, de Zoë Kravitz, 2024
- hikafigueiredo
- há 11 horas
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Filme do dia (131/2025) – “Pisque Duas Vezes”, de Zoë Kravitz, 2024 – Burlando a segurança, a garçonete Frida (Naomi Ackie) encontra uma forma de participar, como convidada, do evento anual do magnata da tecnologia Slater King (Chaning Tatum), de quem se aproxima. Ao final da festa, Slater a convida para passar uns dias em sua ilha particular, na companhia de outros participantes. Frida aceita e leva consigo a amiga Jess (Alia Shawkat), mas nem tudo parece ser o que é nessa viagem.

Inicialmente: difícil falar deste filme sem dar nenhum spoiler, muito embora um aviso antes do início da narrativa já revele informações que alertam sobre possíveis gatilhos quanto a abusos físicos, psicológicos e sexuais, então, algum spoiler virá na esteira do tal aviso. O filme, com um claro recorte racial e de gênero, discorre sobre os perigos que os homens – em especial os brancos, héteros e ricos – representam para as mulheres; sobre a confraria dos homens, que se aliam e se protegem qualquer que seja a situação; sobre a desumanização e objetificação feminina; e sobre a importância da sororidade e cooperação entre as mulheres, que sempre devem se tratar como aliadas e não como rivais. A história começa com a ida de duas amigas – Frida e Jess -, junto com outros convidados, para a ilha particular do magnata Slater King. No local, prazeres hedonistas infinitos são oferecidos aos hóspedes – comidas sofisticadas, bebidas luxuosas, drogas diversas, fazendo com que Frida e Jess sintam-se no paraíso. Ocorre que, após Jess ser picada por uma cobra, ela desaparece da ilha. Frida lembra-se da presença de Jess, muito embora as demais convidadas neguem que ela estivesse em sua companhia, causando espanto em Frida. O que segue é um thriller psicológico intenso, que causará tanto fascínio no espectador quanto asco, a partir de certa altura. A narrativa, irregular, tem quase tantos pontos negativos, quanto positivos. É fato que é um filme envolvente e que instiga a nossa imaginação, mas, a meu ver, trata superficialmente dos temas retro mencionados, que mereceriam um maior aprofundamento. O ritmo da obra também é muito bem desenvolvido, com um clímax explosivo no terço final, mas cujo desfecho me deixou bastante incomodada – eu discordo, muito veementemente, da escolha final e me senti pessoalmente ofendida pelo rumo que a história tomou, acreditando que, se houve o interesse de discorrer sobre patriarcado, misoginia, machismo, e companhia limitada, deveria haver um pouco mais de ética na condução da narrativa (queria expor mais meu ponto de vista, mas seria um spoiler considerável). Por outro lado, achei que a forma como a diretora apresentou os estados de consciência alterada dos convidados bastante eficiente – qualquer pessoa que já tenha tido alguma espécie de amnésia (alcóolica, por uso de ansiolíticos ou indutores de sono ou por stress) vai conseguir entender o sentimento de confusão dos personagens, salientando que o efeito desejado foi promovido tão somente pela boa edição. Tecnicamente, destaco a aliança entre a fotografia e o desenho de produção, trazendo cores muito vibrantes, especialmente o amarelo e o vermelho, mas, também, o azul cobalto e o verde claro – acredito que a escolha das cores muito intensas se deu para remeter à natureza, onde essas cores excessivas habitualmente significam perigo. Também gostei de como foi criado um ambiente de sofisticação através de figurinos clássicos, taças de champanhe, pratos elaborados, onde toda a beleza contrasta com as intenções espúrias de alguns dos participantes. Destaque, ainda, para a música “The Boss”, de James Brown. Quanto ao elenco, surpreende o número de nomes estrelados em papeis secundários, como Geena Davis, Christian Slater, Haley Joel Osment e Kyle MacLachlan. Nos papeis principais, gostei do trabalho de Naomi Ackie como Frida e Adria Arjona como Sarah – ambas trazem às personagens a força e a determinação necessárias aos papeis; quanto ao Channing Tatum... então, ele é muito bonito, não? Daí a ser um ator excepcional vão algumas léguas... ele não chega a ser nenhum desastre, mas não oferece qualquer espessura ao personagem Slater King (ou talvez tenha sido a escolha ideal, justamente por não haver profundidade em qualquer jovem magnata...). A obra, como eu disse atrás, tem méritos, mas mantém tudo na superficialidade. Vejo potencial na jovem diretora Zöe Kravitz, mas ainda precisa se exercitar um pouco mais na função. Recomendo com algumas ressalvas e com aviso de gatilho. Segundo o Justwatch, está disponível em streaming na Prime Video.



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