Filme do dia (95/2022) - "Prazeres da Carne", de Nagisa Oshima, 1965 - Após matar um homem para proteger sua amada Shoko (Mariko Kaga), o jovem Atsushi (Katsuo Nakamura) descobre que uma testemunha presenciou o assassinato. Mas, ao invés de denunciá-lo às autoridades, essa testemunha lhe propõe um acordo difícil de ser cumprido.
Apesar do título sugerir um filme "x-rated", a obra é uma delicada e triste história sobre culpa e medo. Nosso protagonista é um universitário que, para ajudar nas despesas, assume o papel de tutor da colegial Shoko. Logo, o jovem se encanta por sua aluna e, ao vê-la em perigo, assume o risco de matar um homem para protegê-la, sem que ela ao menos saiba sobre sua conduta. Sua temerária ação abrirá espaço para que ele se envolva com uma testemunha de seus atos, que lhe propõe um arriscado acordo. Com o passar do tempo, Atsushi passa a se equilibrar entre o sentimento de culpa por enveredar por caminhos pantanosos e o medo da solidão e de ser descoberto, enredando-se, cada vez mais, em ações pouco escrupulosas que só aprofundam seus sentimentos negativos. No fundo, Atsushi só deseja ser valorizado e amado antes que tudo em sua vida venha a ruir, projetando um ideal de relação a dois que ele persegue avidamente. A obra ainda aborda temas como traição, confiança, (in)justiça , indiferença e más escolhas. Nosso protagonista enfrentará inúmeras dificuldades ao buscar apenas algum conforto emocional e físico. A narrativa é linear, muito embora o personagem central conviva, constantemente, com seu imaginário, de forma a confundir um pouco os acontecimentos. O ritmo inicia mais moderado, mas ganha certa agilidade ao longo do tempo, contando, ainda, com grandes elipses temporais. A atmosfera é de desalento - Atsushi é corroído pela dor da solidão, o medo de ser preso e uma culpa crescente. O elenco - enorme por conta da busca incessante do protagonista por uma companhia feminina definitiva - traz Katsuo Nakamura como Atsushi: eu não lembrava deste ator (que vi em "Kwaidan", 1964) e ainda que ele não chegue à excelência de outros atores que protagonizaram filmes de Oshima, tampouco faz feio, dando bastante conta do recado em exprimir as angústias de seu personagem; no papel de Shoko, Mariko Kaga, uma atriz que, confesso, não me conquistou. Claro que, em diversas pontas, temos atores recorrentes da obra do diretor, entre os quais, Kei Sato, Rokko Toura e Fumio Watanabe. A obra é bem interessante, mas menor que outras tantas de Oshima (ainda estou impactada com o excepcional "Cerimônia Solene", 1971!!!). Em todo caso, é um Oshima, logo, muito, muitíssimo acima da média. Podem ver sem receio de errar.
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