Filme do dia (84/2021) - "Quando o Vento Sopra", de Jimmy T. Murakami, 1986 - Durante a Guerra Fria entre EUA e União Soviética, um casal de idosos britânicos se prepara para um iminente ataque nuclear, enquanto as memórias da Segunda Guerra reavivam-se em suas mentes.
Não se enganem com o poético nome desta animação, imaginando uma história doce e romântica. Baseada na graphic novel de mesmo nome de Raymond Briggs, a obra trata-se de um drama bastante contundente e melancólico acerca dos perigos e consequências de uma guerra nuclear, lembrando, um pouco, a animação "Gen - Pés Descalços" (1983), baseada no mangá homônimo. Acompanhando os passos do casal de idosos, o filme traz um alerta ao perigo nuclear, além de fazer uma severa crítica à desinformação e à alienação reinantes - os diálogos entre o casal seriam risíveis não fosse o resultado trágico de algumas de suas ações por puro desconhecimento. Temos, ainda, uma crítica aos embates ideológicos desprovidos de embasamento e significado - os personagens indicam os soviéticos como os "grandes vilões" ("malditos comunistas"), ficando claro que eles nem sabem o que tais ideias querem dizer. Por fim, a obra trabalha um pouco as questões da memória afetiva e das referências que as pessoas têm das coisas - no caso, a referência que os personagens têm da guerra é aquela trazida da 2ª Guerra Mundial e, constantemente, eles referem-se aos "inimigos" como "os alemães", os nazistas" ou "Hitler", numa noção completamente deslocada no tempo e no espaço, além de se referirem com certa nostalgia àquela época (como se lembranças de um tempo de guerra pudessem ser nostálgicas!). A obra é bastante rica em críticas e conteúdos, podendo ser "trabalhada" sob vários aspectos. Quanto à forma, a animação traz diferentes técnicas de animação - existe uma fusão de animação 2D com stop-motion, além do uso de diferentes tipos de traços (como nos devaneios da personagem Hilda), tudo muito diferente e interessante. Os personagens seriam "fofos", mas a história pungente os torna melancólicos e angustiantes. Aliás, a atmosfera começa leve e torna-se cada mais mais inquietante e dolorosa. O desfecho é daqueles que arranca o coração fora com colher, então, prepare-se. Até pela temática, não é indicado para crianças (a não ser que você queira ter crianças profundamente deprimidas em casa). A obra é fantástica, muito muito muito boa, mas profundamente triste. Recomendo muito, mas é bom ter uma caixa de lenços para acompanhar.
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