Filme do dia (244/2020) - "Quanto Mais Quente Melhor", de Billy Wilder, 1959 - Chicago, 1929. Os músicos Joe (Tony Curtis) e Jerry (Jack Lemmon) testemunham um bárbaro crime cometido por um gângster. Para fugirem da represália certa, eles fingem ser Josephine e Daphne e partem com uma banda de garotas para a Flórida, ocasião em que conhecerão a bela Sugar Kane (Marilyn Monroe).
Existem obras que eu consigo, com facilidade, escrever a respeito delas: obras intimistas, que me colocam a pensar ou que tecem críticas contundentes a respeito de qualquer assunto. Outros filmes são dificílimos de escrever acerca deles: são aqueles em que eu me sinto tão envolvida que me distrai a atenção e eu não consigo reparar em mais nada. Esta obra pertence ao segundo grupo, pois é uma comédia tão deliciosamente envolvente que me engole e eu perco até o chão. Mas vou tentar. O pano de fundo do filme é o período da lei seca nos EUA, quando toda e qualquer bebida alcoólica era proibida no país. É cômico perceber o quanto essa lei era desrespeitada, pois, ao longo da história é um tal dos personagens tomarem whisky, champanhe, vermute, e por aí vai. Mas, o fato de ser a época da lei seca é importante, pois foi um momento em que Chicago foi completamente tomada pelo crime organizado e os famosos gângsters estavam em toda parte contrabandeando álcool. A história já começa divertida com nosso personagens Joe e Jerry, mas a comédia é turbinada quando os protagonistas são obrigados a se travestir de garotas para tentar escapar do mafioso que os persegue - e eles ficaram ótimos de Josephine e Daphne. Claro que uma ou outra piada de cunho meio machista vai aparecer, mas, no geral, a história é tão inocente que a gente até perdoa os deslizes. O roteiro é absolutamente amarrado, flui suave e seguro, em tempo linear e numa linguagem bem convencional. O ritmo é ágil, com timing perfeito para os esquetes cômicos. O filme não ousa tecnicamente em nenhum quesito - ele está 100% inserido no padrão hollywoodiano, mas a genialidade do diretor faz com que a obra saia totalmente da curva e se destaque em meio às demais. Para tanto, ele ainda contou com o talento do trio de protagonistas. Okay, eu sei que Tony Curtis não era um ator excepcional, assim como Marilyn Monroe, mas ambos conseguiram extrair, de seus personagens, um humor que superou qualquer deficiência. Quanto a Jack Lemmon, um ator realmente incrível, apostou tudo na sua veia cômica e fez um Jerry e uma Daphne tão primorosos que foi indicado a Melhor Ator no Oscar de 1960. No elenco, ainda, Joe E. Brown como o milionário Osgood, o melhor "escada" para o humor de Jack Lemmon que Wilder poderia encontrar. O filme é perfeito e, indiscutivelmente, obrigatório para qualquer pretenso cinéfilo. Eu não me canso de ver, já devo ter visto umas quatro vezes e sempre fico absorvida por ele. Se alguém ainda não viu, corra.
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