- hikafigueiredo
"Rio Grande", de John Ford, 1950
Filme do dia (275/2020) - "Rio Grande", de John Ford, 1950 - O tenente-coronel Kirby York (John Wayne) é o responsável por um posto da cavalaria no Texas e defende os colonos contra os ataques dos Apaches. A chegada de seu filho Jeff (Claude Jarman Jr.) como um novo recruta, a quem não via desde que era bebê, fará com que Kirby torne-se ainda mais rigoroso com os novos soldados, em especial, com Jeff.

Há um tempo atrás, eu acreditava que não gostava de westerns. Por pura teimosia, assisti a alguns filmes - e descobri que não tenho nada contra o gênero, exceto... quando os índios norte-americanos são colocados como os grandes vilões. Aí, filho, não me desce mesmo. Tenho fortíssimo bloqueio mental quanto a aceitar a caracterização dos colonos e da "cavalaria norte-americana" (aka exército) como os grandes heróis, injustamente atacados pelos cruéis e desalmados índios (contém ironia). E aí que me dei conta de onde vinha o ranço contra o gênero. Uma outra coisa que me desagrada é a figura do herói "machão" - não gosto deste tipo de personagens nos atuais filmes de ação, não haveria porque gostar nos westerns antigos da década de 50,e John Wayne, lindo ou não, caracteriza exatamente esse tipo de personagem. Nesse filme, a despeito da qualidade da obra em si, temos a junção das duas coisas que eu não gosto - o índio como vilão e o protagonista "machão". Resultado: detestei o filme, ainda que perceba suas qualidades técnicas e a direção segura de John Ford. Mas a falácia do heroísmo dos conquistadores não tem qualquer cabimento e rechaço qualquer filme com esse tipo de enredo (nada pessoal contra esta obra em específico). Mas, tentando me distanciar um pouco desta questão, percebo um desenvolvimento da narrativa cuidadoso e um ritmo arrebatador, que facilmente agradará o público sem esses meus questionamentos. Em relação à figura do personagem Kirky, por outro lado, não consigo nem passar um pano: desculpe aí quem adora o filme, mas Kirby é simplesmente odioso, um militar fanático e machista que destruiu a fazenda da família da esposa e a abandonou com um bebê - gente do céu, onde isso pode ser considerado positivo???? E aquela personagem Kathleen que aceita essa brutalidade e ainda "guarda sentimentos" pelo cidadão???? "Ah, mas tem que contextualizar, isso foi na década de 1950" - não, aqui não é questão de contextualizar, o personagem foi cruel, abominável, com a esposa e o filho por qualquer ângulo que se olhe, seja na década que for. Bom, voltando ao filme, temos uma belíssima fotografia P&B aproveitando os espaços abertos do deserto, uma coisa grandiosa que realmente impressiona. John Wayne, como poucos atores, vestiu esse tipo de personagem, tornando-se o herói dos westerns por excelência - por mais que admire o trabalho do ator, não consigo admirar a filosofia por trás deste tipo de personagem, sorry. O filme é um ótimo exemplo de western - para quem gosta deste tipo de filme. Eu assumo: eu não gosto, eu não gostei, por motivos que extrapolam a questão cinematográfica em si. Em todo caso, para quem curte, "be my guest".