Filme do dia (62/2023) – “Sangue das Virgens”, de Harald Reinl, 1967 – Alemanha, século XVIII. O Conde Regula (Christopher Lee) é condenado à morte pela tortura e assassinato de doze jovens virgens. Sua décima terceira vítima conseguira fugir e o denunciara às autoridades. Antes de morrer por esquartejamento, o conde jura vingança à jovem que o denunciou e ao juiz que proferiu sua sentença. Após trinta e cinco anos, o momento da vingança se aproxima.

Baseado no conto “O Poço e o Pêndulo” de Edgar Allan Poe, este filme de terror gótico alemão tem muito mais méritos que defeitos, principalmente por conseguir criar o tão essencial “climão” para filmes do gênero. A história se passa no século XVIII, momento em que a lei ainda admitia sentenças de morte profundamente cruéis, como a decapitação e o esquartejamento. É nesse panorama que o sádico Conde Regula é preso e condenado à morte por meios tão cruéis quanto aqueles utilizado por ele para torturar suas vítimas. No momento de sua execução, ele jura vingança àqueles que contribuíram para sua morte – sua última vítima e denunciante e o juiz que o sentenciou. Após muitos anos, os fiéis empregados do conde atrairão, para seu antigo e amaldiçoado castelo, os descendentes daqueles que o condenaram. O roteiro é bem desenvolvido, o que não é de se estranhar considerando sua base no conto de Poe. Os personagens até poderiam ser mais aprofundados, mas do jeito que são não estragam a obra. A narrativa é linear em ritmo vagaroso, criando suspense paulatino. A atmosfera da obra é o seu forte – temos passagens realmente assustadoras, como a perturbadora viagem através da floresta dos mortos, onde cadáveres enforcados ou esquartejados pendem das árvores em meio à neblina... uuuuuuh, bem “creepy”, viu! A masmorra do Conde Regula também não fica muito atrás e proporciona uma pequena visão do inferno. Destaco as pinturas das paredes do castelo, claramente inspiradas nas obras de Hieronymus Bosch, em especial no tríptico “O Juízo Final”. A qualidade técnica do filme é bem razoável – a fotografia conta com uma câmera com momentos bastante movimentados, onde ela se afasta ou se aproxima do objeto que se move, quase sempre em planos próximos ou médios. As cores são sempre muito saturadas e brilhantes, algumas vezes fazendo uso de filtros, como no anoitecer na estrada. O desenho de produção contribui para esse colorido, fazendo uso de figurinos vistosos e objetos sempre de cores bem intensas e variadas (verde, vermelho, lilás). Voltando à cena da floresta, a achei muito bem feita, pois as formas são percebidas de maneira sutil através de uma grossa neblina – nossa imaginação ajuda bastante a compor esse quadro horrendo! O elenco traz o ícone Christopher Lee como Conde Regula, altivo como costumam ser os nobres; no papel de Roger Mont Elise, Lex Barker, o “herói” da trama, meio canastrão, mas condizente com o personagem; como baronesa Lilian von Brabant, Karin Dor; Christiane Rücker interpreta Babette e Valdimir Medar interpreta o padre Fabian. Eu gostei da obra, segue a linha dos filmes do estúdio Hammer, que fazia sucesso na época com o gênero (só que no Reino Unido). Para quem gosta de terror gótico é um prato cheio. Se for seu caso, assista.
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