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"Sede de Sangue", de Park Chan-wook, 2009

  • hikafigueiredo
  • 13 de nov. de 2021
  • 3 min de leitura

Filme do dia (336/2021) - "Sede de Sangue", de Park Chan-wook, 2009 - Após ser submetido a um tratamento experimental para uma agressiva doença, o padre Sang-hyeon torna-se um vampiro sedento por sangue e sexo e passa a travar uma luta entre suas convicções morais e espirituais e seus instintos assassinos.





Após o impacto da sensacional Trilogia da Vingança - "Mr. Vingança" (2002), "Oldboy" (2003) e "Lady Vingança" (2005) - o diretor Park Chan-wook aventurou-se por este verdadeiro conto de terror, adentrando no terreno das criaturas da noite, os vampiros. E é claro que, com o domínio da linguagem cinematográfica que ele comprovou ter nos filmes anteriores, o resultado foi incrível - uma releitura moderna e criativa da mitologia dos terríveis seres. A história começa com o virtuoso padre Sang-hyeon se oferecendo como cobaia humana em um tratamento experimental contra uma agressiva doença africana. Ocorre que o tratamento impõe transfusões de sangue, oportunidade em que ele recebe sangue infectado por um vampiro, tornando-se um. Como único paciente que sobreviveu ao tratamento, ele retorna à Coréia do Sul e passa a ser visto pelos fiéis como um "santo milagreiro". Na realidade ele trava uma luta interior contra seus instintos sanguinários, pois convicto de seus esteios morais e espirituais. A obra mescla, com equilíbrio, o terror e o drama, além de ter momentos pontuais de certo humor ácido. O filme é meticulosamente construído para expor a luta do bem contra o mal, além de trazer questões acerca de responsabilidade, justiça, coerência e empatia. O personagem Sang-hyeon, muito embora tenha sede de sangue, reluta em fazer mal a quem quer que seja; no outro extremo, temos Tae-ju, que sente profundo prazer em matar e sequer se considera um ser humano, mas sim, uma criatura. Alguns elementos da mitologia clássica são mantidos no filme - a necessidade de sangue do vampiro, a capacidade de transmitir a herança maldita para outros, a fatalidade da luz solar, a força descomunal -, mas muitos outros são "relidos" - nossos vampiros não têm presas, refletem no espelho, não voam ou se transformam em morcegos. A narrativa é linear, em ritmo ágil e constante. A atmosfera é sombria e está muito mais para angustiante do que para tensa, pois apoiada no sofrimento interior do padre-vampiro. Tecnicamente, o filme é excelente, com destaque para a fotografia que brinca com movimentos de câmera complexos e abusa de planos criativos e ousados, que causam estranheza. O filme conta com bons efeitos especiais que não envelheceram praticamente nada. No elenco, duas feras: o fantástico Song Kang-ho como o padre Sang-hyeon - para quem não liga o nome à pessoa, é o ator que interpreta o pai em "Parasita" (2019), um intérprete completo, incrível; como Tae-ju, Kim Ok-bin - ela está sensacional, algumas das melhores cenas são com ela e ela tem uma expressão facial absurda!!!! Completam o elenco principal, Shin Ha-kyun como Kang-woo e Kim Hae-sook como Lady Ra. O filme é bom demais e entra para o rol das obras sobre vampiros que, afastando-se das produções baratas, tratam o tema com um olhar mais sério e profundo - incluiria neste rol "O Vício" (1995), "Deixa Ela Entrar" (2008) e "Amantes Eternos" (2013). Eu gostei demais e não é porque sou muito fã do gênero, é porque o filme é muito bem engendrado mesmo. Recomendo muito!

PS- O filme foi contemplado com o Prêmio Especial do Júri em Cannes (2009).

 
 
 

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