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“Sermão para o Abismo”, de Hilal Baydarov, 2025

  • hikafigueiredo
  • há 3 horas
  • 2 min de leitura

Filme do dia (111/2025) – “Sermão para o Abismo”, de Hilal Baydarov, 2025 – Com a proximidade do fim do mundo, Shah Ismail (Huseyn Nasirov) sai em busca da água da vida.


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A sinopse sombria – a qual reproduzi acima – me sugeriu uma obra densa, filosófica e, claro, trágica. O poster do filme, em vermelho vivo, evocou imagens perturbadoras e instigantes. O que eu recebi foram duas intermináveis horas de vídeo arte, mais propícias para estarem na Bienal de Arte do que numa mostra de cinema. Este é um filme que existe para induzir sensações e sentimentos. Fundamentado em uma sequência infinita de belíssimas imagens modificadas, seja por filtro, seja por colorização digital extrema, que impôs cores vibrantes – principalmente o amarelo e o vermelho, mas também azul e verde – às imagens, a obra possui um roteiro hermético e completamente incompreensível. O texto que acompanha – por vezes monólogos extensos, por outros diálogos impenetráveis -, entoado em vozes monocórdicas e cadenciado em forma de um mantra religioso, é incompreensível e apenas estimula imagens mentais de coisas sem qualquer sentido. Esse mesmo texto, pedante num nível extremo, pretende-se filosófico e profundo, arrota erudição e grande intelectualidade, mas não resiste a uma análise mínima. Frases do tipo “quero segurar as mãos das flores amarelas” (sic) dão a tônica do texto, e, me perdoem os poetas de plantão, poesia também tem de fazer sentido. Excetuando os momentos em que o texto se refere à arte e seu significado – na minha opinião, os únicos em que a lucidez se faz presente e o texto exprime ideias providas de coerência -, o restante é impossível de entender e concatenar com o todo da obra. O filme, para mim, foi impenetrável, mesmo admitindo que as imagens são lindas, impactantes e remetem a uma aura sagrada e profunda. Ah, de tempos em tempos, as imagens são substituídas por ilustrações fixas de conteúdo perturbador, que remetem a dor, sofrimento, agonia, e por aí vai. A trilha sonora que complementa é repetitiva e contínua: durante um longo tempo uma campainha soou ritmada, sendo, posteriormente, substituída por, acredito eu, o som de um teremim (cara... teremim... quem imagina uma trilha sonora feita por um teremim????). Eu tenho a sensação de que o filme tenta induzir a um certo transe, levar a uma atmosfera meio transcendental – o que eu acho, juro, bem válido... mas, companheiro, fazer isso por duas horas deveria ser incluído nos crimes contra os direitos humanos e proibido pela Convenção de Genebra, porque “pelamor” ... Durante uma meia hora eu curti a experiência, passando disso eu tive dificuldade em imaginar morte mais horrenda. A obra do Azerbaijão leva ao extremo as experiências cinematográficas de diretores como Alexander Sokurov (as imagens do filme me remeteram ao filme “Mãe e Filho”, 1997), Andrei Tarkovski e Sergey Parajanov – água para aqueles lados deve ter alguma composição diferente rs... O filme é esquisitíssimo e, para mim, é mais uma manifestação de artes plásticas do que cinema. Vigésimo sexto filme visto na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 
 
 

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