Filme do dia (271/2020) - "Sid & Nancy - O Amor Mata", de Alex Cox, 1986 - Década de 70. O grupo punk Sex Pistols faz sucesso no mundo tendo Sid Vicious (Gary Oldman) como um de seus integrantes. Nesse cenário, Sid conhece uma groupie de nome Nancy Spungen (Chloe Webb), dando início a um tórrido e conturbado romance.
Antes de assistir a esse filme, achava que não ia conseguir deixar de ver o Gary Oldman por trás do personagem - até porque o ator não era fisicamente parecido com o músico. Mas isso que define um grande ator - Gary Oldman está irreconhecível e "veste" o personagem de uma maneira sanguínea. A obra acompanha a trajetória da relação entre o músico e a namorada Nancy, seu envolvimento com a heroína, o ocaso da carreira profissional de Sid e, finalmente, o fim trágico do casal. É um retrato desalentador sobre uma geração desesperançada e sem perspectivas, influenciada pelo movimento punk, que defendia a subversão cultural, o niilismo, o desprezo às instituições e ideologias de qualquer espécie, a crítica social e o deboche aos ícones culturais já estabelecidos e trazia, em seu bojo, uma agressividade clara e uma veia autodestrutiva. A narrativa começa com a morte precoce e envolta em mistério de Nancy, possivelmente perpetrada pelo próprio Sid em um momento em que estava sob severo efeito de heroína - ainda que a autoria da morte de Nancy jamais tenha sido realmente desvendada e existam inúmeras versões para o fato. Desse evento, voltamos no tempo até o dia em que o casal se conheceu e passou a se relacionar, relacionamento esse conturbado e suicida. Apesar de retratar o ápice da subversão cultural do movimento punk, o filme é extremamente tradicional em sua linguagem - o diretor perdeu uma linda oportunidade de trazer, às telas, em forma de filme, um pouco da criatividade e insubmissão da contracultura punk, preferindo um formato convencional e pouco imaginativo. O ritmo é bem marcado, mas não chega a ser frenético. O forte, aqui, é a trilha musical com músicas de bandas punk e uma incrível versão de "My Way" cantada, de verdade, por Gary Oldman, e, claro, o elenco encabeçado pelo excepcional ator, completamente tomado pelo personagem; Chloe Webb também apresenta um trabalho fantástico como Nancy e Andrew Schofield está muito bem como Johnny "Rotten" Lydon. Courtney Love faz uma ponta no filme como a personagem Gretchen, dentre outras figuras famosas da cena musical que aparecem no filme (Iggy Pop, Slash, Steve Jones, Keith Morris). A obra é interessante mas, na minha opinião, convencional demais para um filme sobre o personagem mais icônico da cultura punk. De qualquer forma, é gostosinho de assistir, fluindo fácil para qualquer público. E tem o Gary Oldman, o que, para mim, é suficiente. Eu gostei, com a ressalva mencionada, e recomendo.
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