Filme do dia (07/2025) – “Sing Sing”, de Greg Kwedar, 2023 – No presídio de segurança máxima estadunidense Sing Sing, um grupo de detentos participantes do programa “Rehabilitation Through the Arts” (RTA) promove peças de teatro dentro da prisão, dentre os quais John “Divine G” Whitfield (Colman Domingo), que também escreve peças teatrais e sonha com a liberdade.

Após um mês com um bloqueio absurdo para escrever, eu me deparei com um filme que conseguiu quebrar esse jejum. “Sing Sing” é um filme incrível e tocante, que despertou novamente a minha vontade de escrever sobre cinema. Obrigada, “Sing Sing”!!! O filme retrata um grupo de prisioneiros no Centro Correicional de Sing Sing, um presídio de segurança máxima nos EUA. No local, há um programa real de nome “Rehabilitation Through the Arts” (RTA), no qual os detentos são incentivados a participar de manifestações artísticas, dentre as quais a criação, produção e apresentação de peças teatrais. A obra, assim, discute o poder transformador, libertador, humanizador e potencialmente recuperador da arte – através dela, os prisioneiros entram em contato consigo mesmos, aprendem a trabalhar suas dores, seus medos e suas raivas e, de uma forma surpreendente, são “curados” por ela, voltando para a sociedade com um novo olhar e uma nova disposição para enfrentar o cotidiano. O filme, ainda, mostra como a arte aproxima as pessoas, faz com que melhorem sua comunicação com os demais e ganhem uma nova sensibilidade para a realidade. Só pelo tema, o filme já seria sensacional, mas, para fazê-lo ainda mais especial, praticamente todos os atores que atuaram no filme são ou foram detentos que participaram do programa RTA (exceção a Colman Domingo e Paul Raci) – e eles são, todos, ótimo atores!!! Algo que me chamou a atenção é justamente o quanto o filme consegue mostrar como o programa é responsável por sensibilizar aqueles prisioneiros. E não só isso – se aqueles corpos estão presos a um lugar, aquelas mentes estão livres e podem transitar livremente pelo mundo das ideias através da arte, motivo pelo qual não senti uma atmosfera de claustrofobia e tensão, muito embora quase a totalidade do filme se passe entre os muros daquela prisão. A narrativa é linear, em um ritmo pausado, mas muito agradável e adequado. Logicamente, é um filme metalinguístico e boa parte dele foca na criação e produção de uma peça de teatro. Formalmente, o que mais me chamou a atenção foi a fotografia com ares de documentário – em quase cem por cento das cenas a câmera está na mão, então sentimos aquele balanço natural do corpo mesmo quando ela está “parada”. O desenho de produção também é ótimo e reproduz os espaços exíguos do cárcere, o que é confrontado pela liberdade de pensamento e criação que a arte proporciona. As interpretações são surpreendentes, já que quase todos ali são amadores – vale destacar o trabalho de Sean San José como Mike Mike e, principalmente, Clarence “Divine Eye” Maclin interpretando a si mesmo. Sério. Clarence Maclin é um ator nato, poderosíssimo, que consegue passar uma carga emocional impressionante, tanto que foi agraciado com vários prêmios como Ator Coadjuvante. No papel principal, o magnífico Colman Domingo, um ator versátil e muito talentoso que vem, ano a ano, ganhando espaço em festivais e premiações. Seu John “Divine G” Whitfield mostra-se muito humano – sábio e equilibrado, mas também passível de se desesperar e revoltar como uma pessoa real naquela situação de pressão. Grande ator, gostei demais de sua interpretação. O filme foi indicado ao Critics’ Choice Award (2025) nas categorias de Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Elenco e Melhor Filme; ao BAFTA (2025) nas categorias de Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Roteiro Adaptado; ao Globo de Ouro (2025) de Melhor Ator; e ao Oscar (2025) nas categorias de Melhor Ator, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Canção Original. Agora, para não falar que o filme é perfeito, a cena final – que não estraga o restante da obra – é desnecessária, gratuita e completamente sem noção. Eu até entendo o público estadunidense fazer questão daquela cena, mas, para o restante do mundo/universo fica a sensação de “porquê?”. Ah, amei as cenas de peças reais do programa RTA, fiquei sinceramente emocionada. O filme está atualmente em cartaz no cinema e vale muito a pena assistir.
Comments