Filme do dia (267/2021) - "Sob As Cerejeiras em Flor", de Masahiro Shinoda, 1975 - Três viajantes - um senhor, sua esposa e o criado de ambos - são atacados durante a travessia de uma montanha por um criminoso local. Encantado com a beleza da mulher, o bandido a poupa da morte para transformá-la em sua esposa e não poupará esforços para agradá-la.

A melhor palavra para definir esse filme é "macabro". Por não conter elementos sobrenaturais, eu resisto a considerar a obra como do gênero terror, mas entendo que ela também não se amolda perfeitamente aos demais gêneros e acaba melhor se adequando ao terror mesmo. A história gira em torno do casal formado pelo criminoso e sua vítima. Fascinado pela esposa do viajante que acabara de assassinar, o fora da lei a poupa para transformá-la em sua companheira. Ocorre que a mulher, de aparência externa lindíssima, tem os piores atributos de personalidade e caráter possíveis - egoísta, mimada, cruel, fria e manipuladora, a mulher exige que o bandido satisfaça todos os seus desejos e caprichos, o que ele cumpre sem pestanejar, por estar enfeitiçado pela moça. A mulher, então, passa a fazer exigências cada vez mais brutais e doentias, divertindo-se com o sinistro resultado. A narrativa é linear, de ritmo moderado e constante. Temos um pequeno prólogo inicial, situado na época da produção do filme, com uma narração em off, completamente deslocado e desnecessário - ignore-o. A história começa, de fato, com a abordagem dos viajantes pelo criminoso - que se mostrará infinitamente mais humano que a sua pretensa vítima, o que não deixa de ser curioso. Como já mencionado, a atmosfera é macabra - um hábito da mulher de brincar com o produto de seus desejos (não vou dar spoiler para não tirar a graça do filme) é realmente sinistro e perturbador. Formalmente, é um filme bem convencional, sem qualquer ousadia em questão de linguagem ou técnicas - tudo é muito bem feito, mas sem maiores destaques. O elenco quase que se resume ao bandido, interpretado por Tomisaburo Wakayama, a mulher, interpretada por Shima Iwashita e a criada, feita por Hiroko Isayama. É interessante que, ao longo da narrativa, passamos quase a ter pena do bandido que, muito embora cumpra os desejos mais vis da mulher, não se sente confortável neste papel - o que demonstra a boa atuação de Tomisaburo Wakayama. Da mesma forma, a interpretação de Shima Iwashita mostra-se bastante pertinente - sua personagem é traiçoeira como uma cobra, mas, em momento algum deixa de falar com voz maviosa e expressão doce e sorridente, manipulando, facilmente, o criminoso (quem é vítima de quem aqui? Quem é prisioneiro de quem?). Por trazer essa dubiedade entre os papéis desempenhados pelos personagens, achei o filme muito interessante - ele me prendeu e gostei bastante do resultado. Recomendado!
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