Filme do dia (147/2018) - "Solaris", de Andrei Tarkovski, 1972 - O psicólogo Kris Kelvin (Donatas Banionis) é destacado para ir para a Estação Espacial Solaris para verificar as condições psicológicas e a sanidade mental dos únicos três tripulantes que permaneceram naquele local. Ao chegar à estação, Kris descobre que o Planeta Solaris, ao redor do qual a estação orbita, tem o poder de materializar criaturas advindas do imaginário dos humanos ali presentes e passa a ter de lidar com uma forma física que recria sua esposa Hari (Natalya Bondarchuk).
Essa maravilhosa ficção científica dialoga intensamente com a obra "2001, Uma Odisséia no Espaço" - como o filme americano, lançado quatro anos antes, "Solaris" atêm-se a questões filosóficas e metafísicas, aposta no ritmo lento e mantém-se afastado dos efeitos especiais tão comuns no gênero. Nesta obra, Tarkovski discorre sobre a natureza do ser humano, seus sonhos, medos, o choque entre o afã pelo conhecimento e o narcisismo humano que tenta transformar tudo em algo que reconheça, a capacidade de aceitar o outro e o desconhecido, dentre outras questões. É desse filmes que, a cada visita, vai despertar novos e novos questionamentos. Não é um filme fácil (se bem que eu o achei mais compreensível que "2001"), mas está a anos-luz do hermetismo de outras obras do diretor, como "O Espelho" e "O Sacrifício". A atmosfera da obra vaga entre o onírico e o aberto pesadelo. A narrativa flui suave, sem saltos. As cenas externas, anteriores à chegada do personagem à estação espacial, são de uma beleza pictórica rara. Já as cenas internas à estação são bastante simples, com evidente "cara" de estúdio, mas, ainda assim, capazes de criar um clima um pouco claustrofóbico. A fotografia alterna tons e matizes: algumas cenas têm uma tonalidade sépia, outras são um P&B caindo para tons azulados e um terceiro tanto reproduz fielmente os tons naturais (não entendi qual foi dessa divisão... tento descobrir numa visita futura). Como já disse, não há a presença de efeitos especiais, nem de longe essa foi uma preocupação do diretor. Quanto às interpretações, acho que Donatas Banionis não me causou muito impacto, ao contrário de Natalya Bondarchuk, cuja presença me deixou mais impressionada. É um filme muuuuito bom, muuuuuuito instigante e eu curti demais. Mas aviso - é bem longo, tem quase três horas de duração e quem não curte grandes filosofias vai querer morrer. Use o bom senso.
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