Filme do dia (288/2020) - "Sombra do Pavor", de Henri-Georges Clouzot, 1943 - Em uma pequena cidade de França, cartas anônimas são escritas e enviadas a diversas pessoas da comunidade acusando-as das mais terríveis faltas e até crimes, criando o caos e um sentimento de suspeita dentre todos os habitantes, que passam a se acusar mutuamente.

O argumento do filme surgiu de um caso real acontecido em uma cidadezinha francesa e deu origem ao controverso filme de Clouzot. Controverso porque a obra foi produzida por uma companhia alemã durante a ocupação da França, motivo pelo qual Clouzot foi tachado de colaboracionista e proibido de dirigir na França por alguns anos após a expulsão dos alemães do país. Além disso, os detratores do diretor viram, na história, uma crítica ao povo francês, usando isso como munição contra Clouzot. Independente de qualquer coisa, a obra é interessante, cria um climão de dúvida e suspeita que alcança o espectador, que tenta juntar as peças para descobrir quem é o autor das cartas anônimas. A obra, ainda, tece uma instigante discussão acerca da contraditória natureza humana, capaz de, a um só tempo, trazer à tona o melhor e o pior do ser humano. A narrativa é bastante convencional e a atmosfera é de forte suspense, que engloba todos os personagens. O roteiro joga "pistas" falsas que conduzem o espectador a tirar conclusões precipitadas e equivocadas. O forte do filme é como se estabelece um série de triangulações de suspeitas e acusações dentre os personagens da história, uns acusando os outros. O elenco, afinado, traz Pierre Fresnay como o Dr. Germain, o primeiro acusado e principal desafeto do escritor anônimo; Micheline Francey interpreta Laura, a esposa infiel, amante do Dr. Germain; Ginete Leclerc interpreta a sedutora Denise, interessada no mesmo médico; Pierre Larquey interpreta o Dr. Vorzet, o marido traído e psiquiatra da cidade; Helena Manson interpreta a suspeita número um, Marie Corbin - diga-se de passagem, o elenco é bem grande e todos são suspeitos. Ainda que não chegue aos pés das obras "O Salário do Medo" (1953) ou "As Diabólicas" (1955), ambas do diretor, é um bom filme, acima da média das produções e vale a visita.
PS - O título deveria ser "O Corvo", forma como o autor das cartas se intitula, mas traduziram com o bizarro e nada a ver nome de "Sombra do Pavor".
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