Filme do dia (70/2021) - "Sombras", de John Cassavetes, 1959 - Três irmãos negros transitam pela noite de Nova York - o trompetista sem rumo Ben (Ben Carruthers), o cantor Hugh (Hugh Hurd) e a irmã mais nova da dupla, Lelia (Lelia Goldoni). Lelia envolve-se com Tony (Anthony Ray), um jovem branco, mas logo depois o rejeita.

Marco do cinema independente norte-americano, o filme traz um fragmento da vida dos personagens na cena do jazz novaiorquina, focando na geração Beat e dando especial atenção aos relacionamentos inter-raciais, tabu àquela época. Ainda que todos os personagens tenham amigos brancos e convivam com eles, é na relação entre Lelia e Tony que o tema racial ganha destaque, pois envereda pelo relacionamento amoroso-sexual, o que deve ter sido escandaloso naquele momento. O filme foge completamente dos moldes hollywodianos, que, na época, significava profundo controle dos estúdios sobre a produção - aqui é evidente o parco texto a ser seguido e a alta influência da improvisação no trabalho dos atores. A narrativa é errática, sem uma linha muito lógica ou clara - o importante é acompanhar a movimentação dos personagens na noite agitada e caótica de Nova York. A fotografia P&B é bastante granulada e com uma definição não muito nítida. A trilha sonora, como era de se esperar considerando a história, é pautada no jazz. Das interpretações, daria destaque para o trabalho de Lelia Goldoni, até porque seu papel exigia mais entrega emocional que os dos demais intérpretes. A obra concorreu ao Prêmio BAFTA de Melhor Filme em 1961. O estilo do filme me lembrou bastante o jeitão de "Estranhos no Paraíso" (1982), de Jim Jarmusch, acreditando que Jarmusch, outro diretor independente norte-americano, tenha se inspirado bastante na obra de Cassavetes para realizar esta obra. Ainda que entenda a importância do filme no panorama do cinema independente dos EUA, devo confessar que eu não me animei muito com ele - talvez eu esteja apenas num mau dia, mas, ao menos hoje, tive de lutar com o sono para terminar de assisti-lo. Mas não nego seus méritos. Vou tentar reassisti-lo em algum outro dia, mais acordada.
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