top of page
  • hikafigueiredo

"Speak No Evil", de Christian Tafdrup, 2022

Filme do dia (02/2023) - "Speak No Evil", de Christian Tafdrup, 2022 - Em uma viagem pela Toscana, o casal de noruegueses Louise (Sidsel Siem Koch) e Bjorn (Morten Burian), junto com sua filha Agnes (Liva Forsberg), conhecem o casal de holandeses Karin (Karina Smulders) e Patrick (Fedja van Huêt), cujo filho Abel (Marius Damslev) tem idade aproximada de Agnes. As famílias fazem amizade e, terminado o período de férias, cada qual volta para seu país de origem. Algum tempo depois, Louise e Bjorn recebem um cartão de seus amigos holandeses, os quais sugerem que eles passem um fim de semana juntos. Eles concordam, sem saber o que lhes espera na Holanda.





Eu, normalmente, só considero filme de terror aqueles que envolvem, de alguma forma, o sobrenatural. Algumas obras, no entanto, tornam-se exceção à regra, pois despertam um sentimento que só pode ser enquadrado como o mais puro terror. "Speak No Evil" enquadra-se, exatamente, no segundo grupo, pois, ainda que não tenha nada de sobrenatural, deixa qualquer espectador com um profundo sentimento de angústia e indubitável horror. Eu, inclusive, indicaria a obra como uma das mais perturbadoras que eu já assisti e não faltam motivos para afirmar isso. A narrativa inicia-se na agradável viagem de férias de Louise e Bjorn para a Toscana, na Itália, onde fazem amizade com a família de Patrick e Karin. O princípio da história é tão agradável que a trilha musical pesada e lamurienta parece deslocada junto àquelas imagens - mas, na realidade, a sonoridade só está abrindo espaço para aquilo que está por vir. O reencontro dos casais na Holanda, na casa do interior de Patrick e Karin, vai mudar, completamente, a atmosfera da narrativa. Não sei exatamente o porquê, mas é incrível a capacidade que os nórdicos têm de fazer filmes desconfortáveis - e aqui não é diferente. Logo que chegam ao local combinado, os dinamarqueses são colocados em situações profundamente desagradáveis, mas, por educação, acabam se calando e aceitando. Mesmo quando confrontados, o casal dinamarquês acaba expondo seus sentimentos de uma forma sutil, polida, educada e francamente constrangida, destoando do casal holandês, que parece ter nenhum freio ou filtro social. As situações incômodas vão se somando, chegando a níveis insuportáveis, inclusive para o espectador que se revira em cólicas pelos absurdos, grosserias e desmandos do casal anfitrião. Até esse momento, a espécie de desconforto vivenciada pelo público remete-o a obras como "Festa de Família" (1998) e "Os Idiotas" (1998), respectivamente de Thomas Vinterberg e Lars Von Trier, ambos também dinamarqueses (eu não disse?). Mas é no terço final que a obra irá solidificar-se como filme de terror, pois o incômodo inicial dará espaço a um profundo sentimento de horror e medo, um medo palpável, que se aproxima do pânico. Sem entrar em spoilers, o "recado" que o filme dá é o de que não devemos aceitar qualquer abuso, sob qualquer desculpa ou justificativa, e que há situações onde ser rude é a única alternativa válida. A narrativa é linear, em um ritmo moderado, com alguns pequenos clímaces ao longo do tempo até o clímax final. A atmosfera é gradualmente perturbadora e o clímax, angustiante e verdadeiramente desesperador, principalmente porque os acontecimentos são virtualmente possíveis de acontecerem (o que me remeteu a outro filme de terror não sobrenatural, o ótimo slasher "O Albergue", 2005). O roteiro é amarradíssimo, não restando arestas, e, a direção, super bem conduzida por Christian Tafdrup. O filme tem uma fotografia colorida bem contrastada, em tons quentes, mas bem convencional em se tratando de planos e posicionamentos de câmera. Coisa rara, a trilha musical me chamou muito a atenção, pois, inclusive, antecipa todo o desconforto logo na entrada dos créditos e pontua os acontecimentos ao longo da narrativa. O elenco, afiadíssimo, reforça o mal-estar dos personagens Louise e Bjorn, pelos ótimos trabalhos de Sidsel Siem Koch e Morten Burian. Já os intérpretes Karina Smulders e Fedja van Huêt nos entregam personagens que transitam muito bem pelo cinismo, sadismo, crueldade e, principalmente, deboche, tornando-os alguns dfos melhores "vilões" que eu já me deparei. O filme dialoga não apenas com os filmes já mencionados, mas, também, com toda a obra de Yorgos Lanthimos, além de alguns filmes de Alexandros Avranas (aliás, não são só os atuais diretores nórdicos que fazem filmes doentios... gregos também tem essa mesma "vibe"). O filme não é bom... ele é bom DEMAIS!!!! Mas prepare-se para ficar chocado, okay? Recomendo muito, um dos melhores de 2022.

4 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page