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  • hikafigueiredo

"Stalker", de Andrei Tarkovski, 1979

Filme do dia (113/2020) - "Stalker", de Andrei Tarkovski, 1979 - Em um futuro indefinido, há um local chamado de "a Zona". Em seu interior, existe "a Sala", um lugar onde os desejos mais recônditos das pessoas são realizados. Apenas pessoas especiais, os "stalkers", conseguem entrar e guiar terceiros através da Zona. Um stalker (Alexander Kaidano) aceita levar dois clientes até a Sala - o escritor (Anatoly Solinitsyn) e o professor (Nikolai Grinko). E começa sua jornada.





O filme - lindo, lindo, lindo! - é um drama com toques de ficção científica e um pé no realismo fantástico. A obra discorre e filosofa sobre a natureza da arte, a concepção de ciência, a natureza humana, a forma como o ser humano usufrui da arte e da ciência, a imagem que cada indivíduo tem de si próprio e, mais que tudo, discorre sobre a crença, não apenas a religiosa, mas, também, aquela relacionada à esperança e aquela que cada indivíduo tem em si mesmo. Para que a Sala funcione, há que se acreditar, há que se ter fé em algo imaterial, intangível, invisível. O roteiro é irretocável, os diálogos são densos e filosóficos e o espectador fica com uma certa sensação de que há mais coisa a se entender e extrair do filme, uma ânsia por saber mais acerca da obra. Apesar de possuir muitos diálogos e ser um pesado exercício mental, "Stalker" também tem um lado sensorial, isto é, há uma mensagem emocional que extrapola a racionalidade, há uma certa transcendência no filme. Para mim, essa composição racionalidade/emoção é um verdadeiro deleite, é uma obra muito rica!!! Além do conteúdo valioso, o filme é visualmente sublime. A direção de arte - dirigida pelo próprio Tarkovski - é excepcionalmente pertinente e responsável por uma sensação de abandono que se relaciona não só com o ambiente, mas com os próprios personagens. Toda a ambientação do filme é meio lúgubre, meio angustiante, desde a triste residência do stalker até os campos dentro da Zona, cheios de tanques e carros calcinados ou os túneis repletos de uma água que parece podre - é uma ambientação de pesadelo. Ah, por sinal, aqui voltamos a ter a atmosfera onírica presente em outros filmes do diretor, como "Solaris" (1972) e "O Espelho" (1975) e o realismo fantástico existente em "O Sacrifício" (1986). A fotografia alterna um P&B em tom de sépia, que dá um ar melancólico, nos ambientes fora da Zona e um colorido suave, com uma luz por vezes bem contrastada, no interior da Zona e nas cenas em que a filha do stalker aparece. Há pelo menos uma cena com a quebra da quarta parede, em uma fala da esposa do stalker. Das interpretações, destaco Alexander Kaidano como o torturado stalker, que não se conforma com a natureza dos Homens (sem spoiler) - ótimo! - e Alisa Freindlich como a sofrida esposa do stalker. destaque para a cena inicial, a cena do corredor chamado "moedor de carne" (em especial na parte do cômodo das montanhas de terra) e para as cenas finais.Há bastante para se elucubrar no filme, há questões de interpretação e o espectador vai ter dúvidas acerca do significado de x ou y passagem, certeza. Eu amei. Recebeu o Prêmio Especial do Juri no Festival de Cannes em 1980, merecido. Recomendo demais.

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